III) ARTE ORIENTAL INSPIRADA NOS PORTUGUESES (até 31 de Maio)
No primeiro andar, espera-nos a mostra intitulada «ENCOMENDAS NAMBAN», exibindo peças no estilo artístico que resultou da chegada dos portugueses ao Japão – 1543.
Namban-jin corresponde ao termo aplicado aos nossos navegadores – os «bárbaros do Sul» – pintados com narizes proeminentes, calças de gibão, longas barbas e chapéus vistosos. Assim povoam os biombos e outros objectos de uso corrente, geralmente em cenários portuários, onde se avistam as naus com as inconfundíveis bandeiras de cruz latina hasteadas ao vento ou a passear-se nos ambientes idílicos dos jardins à japonesa, entretidos em caçadas e noutras actividades faustosas, próprias de Shoguns.
A predominância de mobiliário e demais peças em formato reduzido, sugere-nos terem sido concebidos para a bagagem dos viajantes. Isso é especialmente notório nos objectos devocionais, em dimensões itinerantes (mini-oratórios, estantes de missal de mesa, pequenas píxides com a inscrição grega do nome de Cristo «IHS», iluminuras em miniatura), ou nos móveis destinados ao arrumo dos documentos pessoais – os «escritórios de pousar» em tamanho transportável.
Nos biombos, destacaria os dois que antecedem a câmara escura onde se desenrola a exposição Namban:
- o mais imperdível fica logo à esquerda, depois de subir a escadaria: sobre o esplendoroso fundo de laca avermelhada ressalta, a ouro, o casario de Macau, num efeito surpreendente de vista aérea; um biombo em double-face, cujo lado oposto mostra a cidade de Cantão banhada pelo Rio das Pérolas, em ouro sobre laca preta. Uma peça magnífica do valioso património macaense, datada do século XVIII;
- virando à direita no topo da escadaria, avista-se um biombo com painéis de temática cristã cobertos de pinturas que igualam as ocidentais, emolduradas por uma cercadura tipicamente oriental, numa junção muito invulgar. Excêntrica mesmo, ao envolver elementos europeus com o exotismo asiático, em áreas demasiado diferenciadas, num diálogo de ecos desconcertantes, embora enriquecedores.
Um dado adicional da história dos Descobrimentos, decorrente da saída dos portugueses do Japão, um ano antes de Portugal recuperar a independência (1639): depois de um ataque cerrado da marinha holandesa às possessões comerciais lusas naquelas paragens (enfraquecidas durante o domínio espanhol, que dominava também a Holanda), a Casa de Orange conseguiu assegurar uma presença continuada na zona, operando a partir de Nagasaki, rapidamente convertida em radial das rotas mercantis do Pacífico. À arte Namban sucedeu então a arte Komo-jin, alusiva aos novos ocupantes de tez ruiva, oriundos do Norte da Europa.
Artistas japoneses pintam astrónomos holandeses em Dejima (1803-1817)
«Os Biombos Namban
Os biombos Namban contam
A história alegre das navegações
Pasmo de povos de repente
Frente a frente
Alvoroço de quem vê
O tão longe tão de pé
Laca e leque
Kimono camélia
Perfeição esmero
E o sabor de tempero
Cerimónias mesuras
Nipónicas finuras
Malícia perante
Narigudas figuras
Inchados calções
Enquanto no alto
Das mastreações
Fazem pinos dão saltos
Os ágeis acrobatas
das navegações
Dançam de alegria
Porque o mundo encontrado
É muito mais belo
Do que o imaginado.»
Sophia de Mello Breyner
Poderá completar-se a viagem cultural no simpático restaurante do último andar do Museu, onde se sente a proximidade do Tejo. Esperam-nos misturas originais em pratos decorativos. A alquimia do Chefe combina sabores portugueses e chineses, numa experiência exótica, com menu renovado mês-a-mês!
Antes de deixarmos a Ásia, vale a pena concluir ao som de um quinteto de pequenos guitarristas, que têm propagado a música oriental pelo youtube:
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
(1) MUSEU DO ORIENTE - www.museudooriente.pt
Morada - Av. Brasília, Doca de Alcântara (Norte)
Tel. 21.3585244
Horário:
ENTRADA LIVRE NAS TARDES DE SEXTAS, DAS 18h ÀS 22h00.
1 comentário:
Fico sempre impressionada com a tua capacidade de ires fundo nos assuntos! Não brincas, de facto, MZ! Quanto à Companhia de Jesus ser a primeira multinacional, acho o máximo! Adorei a expressão! Bjs. pcp
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