30 dezembro 2014

Duas Últimas

Domingo foi dia da Sagrada Família de Jesus, Maria e José. Como o Natal calhou este ano a uma 5ª feira, a festividade caiu muito em cima do fim do que alguém terá chamado a festa do tubo gástrico. Na missa que frequento normalmente, o padre de serviço, pessoa de quem me considero amigo e com quem gosto muito de conversar, falou na enorme força da fragilidade da vida humana. Não garanto a fidelidade absoluta à frase proferida, mas o espírito seria este, sendo que vida humana tinha, neste caso, a dimensão das relações familiares. 

Numa entrevista ao jornal Público, D. Manuel Clemente afirma a páginas tantas: numa situação de pobreza, de desprovimento, acrescida e para tanta gente, encontrar uma criaturinha tão frágil, como uma criança acabada de nascer - mas pode ser uma pessoa idosa, prestes a morrer - e eu acreditar que a realidade absoluta a que chamamos Deus se revela assim, não me sai da cabeça.

Gostei do pensamento do nosso Patriarca, mas a frase que retive da homilia tem, para mim, um encanto especial. Talvez porque não seja óbvia, talvez porque possa constituir um desafio a olhar-se mais além, por um ângulo diferente, como se olhássemos para um quadro começando pelo verso da tela. Talvez ainda porque nos devamos lembrar que da fragilidade das coisas o espaço para crescer e tornar-se forte é imenso, é todo. Enquanto que a inversa não é forçosamente verdadeira.

Deixo-vos com o Et Incarnatus Est, da Missa em C Menor de Mozart. Um tema muito bonito, deprimente para alguns, enriquecedor para outros. Para ouvir alto, em podendo e querendo, porque o tempo é de recomposição de excessos de alimentos e palavras. E talvez a beleza do trecho nos consiga explicar porque motivo a fragilidade da vida humana tem tanta força.

JdB

1 comentário:

Anónimo disse...

Lindo. Sente-se a ressonância a nível orgânico.
Agradeço.

Um 2015 de comunhão e apaziguamento, a servivido e projectado.

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