Em Paris, tem estado a
decorrer uma experiência publicitária extraordinária, que permite a qualquer
transeunte abrir uma simples portiinhola e ver, em directo, o que se está a
passar noutras cidades europeias. Rectângulos grandes, que são uma porta isolada
sem parede, estão montados em ruas das imediações do Louvre. Roda-se a maçaneta
e descobre-se um ecrã do tamanho de uma pessoa, onde correm, em tempo real, as
imagens do dia-a-dia de Bruxelas, Milão, Estugarda, Genebra e Barcelona. Desse
outro lado do ecrã, a uns milhares de kms de distância, as pessoas interpelam o
incauto de Paris, falando e brincando com aquele desconhecido, como se fosse um
novo turista acabado de chegar ao seu país. São portas interactivas que, na publicidade originalíssima
chamada EUROPE IS JUST NEXT DOOR, promovem
a ligação ferroviária e social entre cidades da UE. Tudo parece ficar mais
próximo:
NATAL SOLIDÁRIO NUM MONUMENTO IMPERDÍVEL DE LISBOA
Até pela visita ao antigo
Convento dos Cardaes(1), a 5
minutos do Príncipe Real, vale a pena descer a Rua do Século, até ao número
123. No gin de 7 de Julho, no elenco do património lisboeta menos conhecido e
menos acessível, vinha este Convento, que resistiu quase intacto ao terramoto
de 1755, mantendo uma capela magnífica forrada a azulejos holandeses, de Jan Van Oort,
muita talha dourada, embutidos em mármore e arte sacra variadíssima.
ENTRADA:
PERSPECTIVAS DA CAPELA PRINCIPAL:
Ao longo
da casa, em inúmeros nichos e na parte do Museu descobrimos retábulos, pinturas
do século XVII e XVIII, painéis de azulejaria e imagens lindas, como a de Nossa
Senhora do Loreto ou a do Menino Jesus Infante.
AZULEJARIA POR TODO O CONVENTO:
Fundado em 1681, por
D. Luísa de Távora, para as Carmelitas Descalças, em 1878 converteu-se num
asilo de cegas, sustentado pela Associação de Nª. Sra. Consoladora dos Aflitos,
ainda hoje no activo. Passando a ficar à guarda de uma ordem religiosa
vocacionada para a assistência aos doentes pobres, vieram depois a juntar-se outros
deficientes profundos. Hoje, abriga 35 acolhidas, totalmente dependentes do
cuidado constante das Irmãs e dos inúmeros voluntários que ali colaboram. Com
esforço, a obra empenha-se em ser fiel à sua missão filantrópica. A sua história
atribulada inclui a prisão das monjas, em 1910, na onda de perseguição
religiosa que se seguiu à implantação da República. Mas só ficaram retidas por
dois dias, pois as autoridades não conseguiam travar os protestos clamorosos
das doentes cegas, que choravam desesperadamente pela perda das suas
protectoras. Uma reivindicação espontânea bem persuasiva e justa, que acabou
por ter um final feliz…
A Venda de Natal do Convento, já com boa
tradição desde há uns anos, é uma altura privilegiada para a angariação de
fundos para ajudar ao sustento da casa. Este ano, de 21 de Novembro a 21 de
Dezembro, recebem os visitantes para chá e scones nas salas antigas do 1º
andar, com tectos de masseira em caixotões e painéis de azulejo decorativos nas
paredes. O refeitório principal ainda conserva as mesas de sucupira vermelha,
decorado com “albarradas” simples e pinturas seiscentistas, anteriores à
própria construção do convento (vindas de um outro mosteiro):
Nos claustros, esbarramos com uma panóplia imensa de presentes, originais e
a bom preço, bem alinhados em mesas decorativas, que ajudam a festejar a quadra.
Finalmente, na loja
da Casa, junto à entrada, acumulam-se as especialidades confeccionadas no
Convento, entre compotas, geleias,
chutneys, vinagres, piri piris, biscoitos de limão e outras surpresas óptimas.
Tudo delicioso e, sobretudo, utilíssimo. Que o digam as “meninas”, como lhes
chama carinhosamente a Irmã Ana Maria, partilhando na net um bocadinho destas
vidas tão arredadas do rebuliço das ruas de Lisboa, que mal acreditamos
existirem.
No testemunho da Irmã:
Para
nós e para as meninas, muitas delas no Convento desde muito novas, o
contríbuto (de gente generosa) tem sido fundamental. Estamos certos que sente(m),
como nós, a alegria do papel transformador que tem desempenhado nestas vidas!
A Assunção, "menina
Assunção" como era chamada,
faleceu este ano depois de viver 80 anos no Convento.
Entrou com 6 anos. Não conheceu outra casa, nem outra família. Era cega total
e tinha um atraso de desenvolvimento. Contudo, aprendeu Braille,
tarefas da vida diária, fazia muito bem malhas
e crochet e aqui viveu sempre, todos os dias da sua vida.
Esteve 80 anos connosco!
faleceu este ano depois de viver 80 anos no Convento.
Entrou com 6 anos. Não conheceu outra casa, nem outra família. Era cega total
e tinha um atraso de desenvolvimento. Contudo, aprendeu Braille,
tarefas da vida diária, fazia muito bem malhas
e crochet e aqui viveu sempre, todos os dias da sua vida.
Esteve 80 anos connosco!
O
Convento é um conjunto de histórias de vida às quais queremos dar um fim feliz.
Perdemos duas meninas este ano mas gánhamos duas outras - são irmãs, ambas com
atraso de desenvolvimento grave, pai esquizofrénico e cuja mãe faleceu em Maio
passado. Fazem agora parte da Família do Convento, exigindo um enorme
investimento afectivo e de recursos, da parte dos que aqui trabalham e dos
voluntários.
A D. e a S. vêm de uma família de classe
média,
mãe professora e pai ex-funcionário da TAP,
reformado compulsivamente em virtude da esquizofrenia.
Já durante a doença da mãe estas meninas
perderam muito dos hábitos de vida quotidiana,
ficaram entregues a elas mesmas. O nosso desafio foi recebê-las,
criar-lhes confiança, dar-lhes amor e atenção
- fazê-las sentirem-se parte da nossa família e, proporcionar-lhes
- uma nova vida - ir à piscina, dar passeios, fazer ginástica,
música e teatro...para quem não saía da cama é uma diferença abissal.
Estão há três meses nesta Família!
mãe professora e pai ex-funcionário da TAP,
reformado compulsivamente em virtude da esquizofrenia.
Já durante a doença da mãe estas meninas
perderam muito dos hábitos de vida quotidiana,
ficaram entregues a elas mesmas. O nosso desafio foi recebê-las,
criar-lhes confiança, dar-lhes amor e atenção
- fazê-las sentirem-se parte da nossa família e, proporcionar-lhes
- uma nova vida - ir à piscina, dar passeios, fazer ginástica,
música e teatro...para quem não saía da cama é uma diferença abissal.
Estão há três meses nesta Família!
Estas não são "histórias". São a
realidade dura e comovente das vidas das meninas que, graças a si, podem agora
ter uma nova vida connosco. A vida no Convento requer muito investimento para
tornar possível o acompanhamento e todas as atividades necessárias e
aconselháveis ao desenvolvimento de cada uma. Terminamos agradecendo-lhe pelo
seu esforço generoso e queremos que sinta a gratidão de quantos aqui trabalham,
voluntários e profissionais e, muito especialmente, a gratidão das 35
meninas/mulheres que aqui vivem.
Na contagem decrescente para o Natal, todas as
formas de aproximação aos outros vêm ainda mais a propósito. Desde as portas
interactivas e divertidas de Paris, às diversas vendas de Natal solidárias,
como a dos Cardaes, muitos sítios giros esperam por nós.
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico,
para daqui a 2 semanas)
_____________
(1) www.conventodoscardaes.com,
www.facebook.com/conventodoscardaeslisboa.
Rua do
Século nº123, Lisboa, no quarteirão que faz esquina com a R. Eduardo Coelho, dando acesso à entrada lateral
pelo nº1.
Tel.: 213
427 525. Email: conventodoscardais@net.vodafone.pt
ORATÓRIOS E NICHOS POR TODA A CASA:
MAQUINETAS E IMAGENS COM VALOR
ARTÍSTICO:
DOÇARIA CONVENTUAL:
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