“Olho para a minha vida nos últimos meses e
realizo que não passou de um puzzle (...)”
***
Um dia, alguém com quem converso amiúde
afirmou-me: “disseram-me que mais cedo
ou mais tarde eu perceberia o plano que Deus tem para mim.” Mais do que a
frase, o conceito foi motivo de uma conversa posterior, já sem a presença de
nenhum dos outros intervenientes. Surgiram então três perguntas que, num olhar
mais distraído, poderão não ter relação com o tema em apreço:
1) a quem rezamos, a Deus ou a Jesus Cristo?
2) o que pode fazer a fé por nós?
3) o que é o plano de Deus para cada um de nós?
Deus é totalmente intangível, enquanto Jesus
Cristo andou por cá, fez-se ouvir na primeira pessoa, deixou-nos um código de
boas práticas. Talvez por isso a um peça a intangibilidade: a força, a
sabedoria, o discernimento, a paz, o amor. Ao outro pedirei a intangibilidade
transformada em actos: como aceitar, como perdoar, como ter força, como
transformar a solidariedade em actos.
Ter fé significa, em boa verdade, o quê?
Acreditar, pura e simplesmente, na existência de Deus como criador de todas as
coisas? E isso, repito, significa o quê? O que faz essa crença por nós, em que
nos ajuda, em que medida nos transforma em pessoas melhores, mais serenas, mais
pacificadas com a vida ou mais atentas ao próximo? A espiritualidade – que me é
indissociável da fé – fez muito por mim. Talvez a resposta da pergunta 2 esteja
na resposta da pergunta 1...
A nossa vida é um conjunto de acontecimentos
dissociados ou esses acontecimentos fazem parte de algo maior? Isto é, são
apeadeiros lógicos de uma mesma viagem, ou são reflexos de um percurso onde só
o cálculo de probabilidades vinga? A nossa vida é um jogo de sorte e azar,
ponto final parágrafo? Não estou certo de que Deus tenha um plano individual para
cada um de nós, porque isso equivaleria a dizer que há uma decisão divina sobre
a fortuna e a pobreza de cada um, sobre as vidas fagueiras e as vidas sofridas
de cada um. Talvez o plano de Deus seja levar-nos a olhar para as nossas vidas
– cheias de facilidades ou tristezas, cheias de perdas e alegrias, ou com um
misto de tudo – e perceber que com uma perda vem uma oportunidade, com uma
promoção vem uma obrigação, com uma tristeza vem um desafio. Talvez o plano de Deus
seja levar-nos à serenidade, à confiança de que fala, também, a parábola dos lírios do
campo.
A frase que encima o post é tirada do livro Deus pregou-me uma partida, que co-escrevi
com a Rita Jonet. A frase é simples, muito simples. Mas reflecte uma verdade: a
nossa vida é um puzzle. Quando percebermos que tudo se encaixa - os acontecimentos
dolorosos, as lutas, o despojamento dos prazeres, os livros com que nos
cruzamos, as pessoas que atravessam a nossa vida, o que ganhamos com o que perdemos - a vida tem nexo, e damos um sentido às coisas.
O que faz por nós a fé? Talvez, muito
simplesmente, nos faça perceber o plano que Deus tem para cada um dos seus filhos.
JdB
1 comentário:
So' hoje li... concordo com "Quando percebermos que tudo se encaixa -.... a vida tem nexo, e damos um sentido às coisas." Nao concordo com que faz por nos a fe': a fe' nao percebe senao tinha origem na mente, a fe' e' do dominio do espirito - aceita que o plano de Deus e' o melhor para no's.
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