Aqui vai um mini-noticiário para estimular
iniciativas, que são urgentes. A criatividade ajudará cada um a descobrir o seu
espaço de intervenção possível:
Na Europa, entranha-se o medo pela avalanche de
incertezas e até ameaças que assolam o continente, a crescer descontroladamente
e a adensar-se numa teia caótica, à beira da sobrecarga. Uma hora de
lusco-fusco, adivinhando-se turbulência e empobrecimento.
Mas há bem pior: noutras partes do planeta, as
nossas incertezas, os nossos medos são um luxo. Entre o Médio Oriente e África,
a morte alastra-se com requintes de crueldade. Os sons, os cheiros, as imagens,
tudo vem contaminado por um rastro de destruição. Seguem-se-lhe as pilhagens, a
fome, os raptos e a escravidão dos pobres sobreviventes, num ciclo demasiado
familiar para os sírios e os povos limítrofes, para o Ruanda, o Iémen, o
Burundi, o Quénia; mesmo no novo mundo, a situação é crítica na Venezuela, na
Bolívia, em províncias extensas do México, etc.
O sofrimento
da Pietá replicado, no séc.XXI, com crianças!
Na
misteriosa promessa de Cristo: «Felizes
os que choram, porque serão consolados.»
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É sempre dantesca a experiência de guerra e na Síria que já se arrasta há 5 anos, com ingredientes sádicos. Há quem considere aquela alegada
guerra civil como sendo a Terceira Guerra Mundial, por enquanto delimitada ao território sírio e a mais alguns países do Médio Oriente e de África. Os combates mais encarniçados decorrem nas cidades, atingindo os
civis desprotegidos e inocentes. Metrópoles antes coloridas e prósperas estão a
ser selvaticamente reduzidas a amontoados de pó de cimento intoxicante e
cadáveres calcinados. Ao zumbido infernal das balas e das bombas segue-se um
silêncio sepulcral, apenas entrecortado pelos gemidos dos moribundos e dos
órfãos. À devastação humana soma-se a erradicação das raízes históricas de
civilizações milenares, cometendo-se o duplo crime de tentar apagar a sua
memória da face da terra.
Sim,
estes tempos pedem-nos mais abertura e imaginação para desencantar soluções à
altura das dificuldades incríveis dos nossos concidadãos, sobretudo dos mais necessitados. Muitos
universitários portugueses (conheço vários) têm feito voluntariado em ilhas
gregas para ajudar no resgaste aos refugiados da guerra e da miséria. Um grupo
de casais amigos fretou carrinhas e fez-se à estrada para ir recolher
refugiados ao ponto de desembarque, nas margens europeus do Mediterrâneo, e os
convidar a recomeçarem vida neste recanto solarengo da Europa.
Em 1985, Maria Helena Vieira da
Silva pintou uma tela profética intitulada «Caminhos da Paz» (no original:
«Chemins de la paix», óleo
s/ tela 73 x 100 cm), relevando-os
difíceis, misteriosos, mas com possibilidade de intercepção positiva, no
horizonte mais profundo. Talvez longínquo. Muito eloquente o título, aberto a
vários trilhos mas com destino a uma Paz única, universal – aquela que faz ressoar ecos inconfundíveis na
alma humana:
Gandhi: «Deus responde à prece à sua própria maneira,
não à nossa. (…)
Orar não é pedir. Orar é a respiração da alma.»
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Do Vaticano, o Papa tem convidado todos os homens de
boa vontade a lutar pela Paz com as armas da Paz, que são a Justiça, a Verdade
e o Amor. Instiga-nos também ao perdão e à entreajuda. Aos crentes pede ainda que
rezem. Que rezem com maior entrega e Esperança, confiando que deste mal horrendo
algum bem poderá irromper (só aparentemente impossível), ainda que não
vislumbremos desfechos simples, menos ainda rápidos. Felizmente que a realidade
não precisa da nossa imaginação para chegar mais longe, ainda que goste de
contar com o nosso contributo simbólico.
Gandhi: «A única revolução possível é a de dentro de
nós.»
Imagem de
Narciso Contrera /Associated Press.
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Mensagens claras podem ajudar a inspirar o nosso
esforço, seja na oração, seja por gestos concretos de solidariedade, sendo tudo
preciso e urgentíssimo:
«Queria fazer-me intérprete do grito que se eleva, com crescente
angústia, em todos os cantos da terra, em todos os povos, em cada coração, na
única grande família que é a humanidade: o grito da paz! É um grito que diz com
força: queremos um mundo de paz, queremos ser homens e mulheres de paz,
queremos que nesta nossa sociedade, dilacerada por divisões e conflitos, possa
irromper a paz! Nunca mais a guerra! Nunca mais a guerra! A paz é um dom
demasiado precioso, que deve
ser promovido e tutelado (…)
Quando o homem
pensa apenas em si próprio, nos próprios interesses e se põe no centro, quando
se deixa fascinar pelos ídolos do domínio e do poder, quando se coloca no lugar
de Deus, então rompe todas as relações, destrói tudo, e abre a porta à
violência, à indiferença ao conflito. (…)
Aperfeiçoámos
as nossas armas, a nossa consciência adormeceu, tornámos mais subtis as nossas
razões para nos justificarmos. Como se fosse uma coisa normal, continuamos a
semear destruição, dor, morte. A violência, a guerra só trazem morte,
falam da morte. A violência e a guerra têm a linguagem da morte. (…) Na
verdade, gostaria que cada um de nós, desde o mais pequeno ao maior, até
aqueles que são chamados a governar as nações, respondessem: Sim, queremos (a
Paz). (…) É possível percorrer outro
caminho? Podemos sair desta espiral de dor e morte? Podemos aprender
novamente a caminhar e a percorrer os caminhos da paz? (...) Sim, é possível
para todos! (…)
Que cada um se
anime a olhar para o interior profundo da própria consciência e escute aquela
palavra que diz: sai dos teus interesses que atrofiam o coração, supera a
indiferença para com o outro que torna o coração insensível, vence as tuas
razões de morte e abre-te ao diálogo, à reconciliação. (…)
Olha para a dor
do teu irmão... penso nas crianças... e não acrescentes mais dor,
fecha a tua mão, reconstrói a harmonia que se rompeu; faz isto não com o
confronto, mas com o encontro. Termine o rumor das armas! A guerra marca
sempre o fracasso da paz, é sempre uma derrota da humanidade. (…)
A paz só se
afirma com a paz. Perdão, diálogo, reconciliação são as palavras de paz: na
amada nação síria, no Médio Oriente, em todo o mundo! Rezemos pela
reconciliação e pela paz, trabalhemos pela reconciliação e pela paz (…).»
Papa Francisco – 01-09-2013
«Oração pela paz
(…)
Senhor da paz e
da vida,
Pai de todos,
Tu tens projetos de paz e não de aflição,
condenas as guerras
e abates o orgulho dos violentos. (…)
Escuta o grito unânime dos teus filhos,
a súplica cheia de tristeza de toda a humanidade;
jamais a guerra, espiral de luto e de violência;
ameaça para as tuas criaturas
no céu, na terra e no mar (…)
Pai de todos,
Tu tens projetos de paz e não de aflição,
condenas as guerras
e abates o orgulho dos violentos. (…)
Escuta o grito unânime dos teus filhos,
a súplica cheia de tristeza de toda a humanidade;
jamais a guerra, espiral de luto e de violência;
ameaça para as tuas criaturas
no céu, na terra e no mar (…)
Suplicamos
ainda:
fala ao coração dos responsáveis dos
destinos dos povos,
cessa a lógica das represálias e da vingança,
sugere com o teu Espírito novas soluções,
gestos generosos e respeitosos,
espaços de diálogo e de paciência.
Dá ao nosso tempo dias de paz.
Jamais a guerra .»
cessa a lógica das represálias e da vingança,
sugere com o teu Espírito novas soluções,
gestos generosos e respeitosos,
espaços de diálogo e de paciência.
Dá ao nosso tempo dias de paz.
Jamais a guerra .»
Papa João Paulo II
Vale a pena munirmo-nos de todos os meios ao nosso
alcance para não perdermos este combate em favor da Paz. Nem nós nem as
gerações futuras merecem derrotas por comodismo ou cobardia ou mera falta de
comparência! Seria bom dispormo-nos, hoje, a atender ao grito de socorro dos
milhões de seres humanos afectados pela guerra. Até coincide com o período
quaresmal, para os cristãos, recomendando-se maior atenção aos outros. Já é um
avanço ainda não estarmos na linha de frente da luta armada. Convém
aproveitarmos bem o tempo que nos resta, porque o futuro decide-se agora
e pode não haver uma segunda oportunidade.
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico,
para daqui a 2 semanas)
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