22 junho 2017

Crónicas de um doutorando tardio - ofertas para o 1º semestre 2017 / 2018

A Recherche de Proust (João R. Figueiredo)

O seminário parte da afirmação de Proust, citada pela sua governanta, Céleste Albaret, de que Charlus/Montesquiou era “le noyau de [s]on affaire”. Indagando a centralidade absoluta que a "raça maldita" dos homossexuais ocupa na Recherche e o investimento literário do autor na caracterização trágico-cómica dos habitantes de Sodoma, o objectivo do seminário consiste em apresentar uma descrição unitária do romance que integre os vários temas (a memória, a percepção do tempo, o snobismo, o amor e o ciúme, a relação entre a vida e a arte, etc.) num todo orgânico regido por aquele núcleo. É requerida a leitura integral da Recherche numa língua qualquer.


Geografias literárias (Ângela Fernandes)

O objectivo do seminário será o de reflectir sobre os mecanismos conceptuais de identificação e delimitação seja de literaturas nacionais seja de campos de estudo seus conexos, prestando especial atenção à configuração histórica das áreas dos Estudos Hispânicos e dos Estudos Ibéricos.   O desafio radical à ideia de nacionalidade literária lançado por Ramón Gómez de la Serna em 1927 com a publicação de 6 falsas novelas repercute questões de diversa índole. Na sua época, a obra poderá ser entendida como elemento menor, mas não negligenciável, na discussão sobre os contornos das culturas hispânicas e ibéricas, tal como teorizadas por José Ortega y Gasset ou Fidelino de Figueiredo, entre outros. Já num contexto mais alargado, as novelas de Gómez de la Serna ocupam lugar proeminente numa linhagem de textos que manifestamente expõem a dimensão retórica de qualquer forma de geografia literária, e nesta linha procuraremos ler narrativas de Jorge Luis Borges, J.M. Coetzee ou Bernardo Carvalho.


Tempos Bíblicos (Teresa Bartolomei)

Ultrapassando a vulgata da simplificação que contrapõe o tempo cíclico da civilização greco-romana ao tempo linear judaico-cristão, o seminário propõe-se reconstruir a efectiva pluralidade de perspectivas temporais que articulam a exposição bíblica da experiência humana individual e colectiva, existencial e histórica: o tempo do profeta é diferente do tempo genealógico, o tempo criatural é diferente do tempo messiânico, o tempo da Lei é diferente do tempo da Graça.  Reconhecer esta variedade pode ajudar-nos a perceber melhor aspectos e momentos fulcrais da auto-representação do homem ocidental até à actual crise conjunta das noções básicas de humanidade e de história.  Uma etapa central da nossa exploração dos textos testamentários serão as cartas paulinas, em que encontramos uma explícita formulação e justificação desse pluralismo temporal: a radical contingência da condição humana consiste também no facto de não haver um tempo único, cognitivamente e praticamente ‘obrigatório’, mas uma constelação de dimensões  temporais diferentes, complementares apesar de parcialmente contraditórias, entre as quais é possível, e devido, escolher.


Ler Shakespeare (Maria Sequeira Mendes)

Apesar de, em Shakespeare, o Rei Hamlet ser a única personagem envenenada pela orelha, há muitas outras que sucumbem às insinuações ou às afirmações dos vilões, deixando que o ouvido as engane. Poder-se-ia até afirmar que as tragédias, e algumas comédias, ilustram variações no modo como cada personagem é influenciada pelo ouvido (Othello, Macbeth, King Lear, Richard II, Brutus, Benedict e Beatrice), aniquila outros com a sua retórica (Richard III), ou não se deixa manipular (Hamlet, Coriolanus, Cordelia). Neste seminário, lêem-se algumas peças de Shakespeare à luz destas variações.

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