16 agosto 2018

Poemas dos dias que correm

Utopia
 
Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
Afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo mas irmão
Capital da alegria

Braço que dormes
Nos braços do rio
Toma o fruto da terra
E teu a ti o deves
   Lança o teu
      Desafio

Homem que olhas nos olhos
Que não negas
O sorriso a palavra forte e justa
Homem para quem
O nada disto custa
Será que existe
Lá para as margens do oriente
   Este rio este rumo esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
         Na minha rota?

Zeca Afonso, in 'Textos e Canções'

***

Verdade e Mentira

Neste livro do mundo
      Quase perfeito
Preto e branco irmanados
      De igual jeito
Quem não foi a tribunal
      Quem teve mão
      Nos juizes da Santa Inquisição?

Em menino te ensinaram
Mentiras que a morte leva
Para outra morte bem longe
De pensares que outra contrária
Com a tua se aglomera
Neste livro de concórdia
Só tem guarida o Infinito
Por Giordano Bruno amado
Como se fora seu filho
Acima da besta fera
Que na fogueira o lançava
Aquela verdade brilha
A morte à morte diziam
Os que não adivinhavam
Que era verdade a mentira
Até o Mar se acomoda
E paciente requebra
Enquanto gritas à toa
A tua verdade cega
Conta as areias da praia
O grande mago do mundo?
      Só não mente quem não sente
      Que o mistério não tem fundo

Zeca Afonso, in 'Textos e Canções'

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