Partiste hoje, mas há dezassete anos.
Onde está o céu? O que é o céu para quem ainda cá está e tenta construir uma estrada terrena? O céu é um espaço de total e absoluta felicidade, de uma dimensão tal que não é explicável com o vocabulário terreno? Talvez aquilo que nos falte não seja o vocabulário para explicar, mas as pernas para fazer caminho, os braços para agarrar uma outra verdade, as mãos para tocar a santidade, os olhos para ver além do desfocado. Achamos que o céu é uma inconstância geográfica: hoje está mais perto de nós, amanhã afasta-se. Porém, nunca se aproxima com total segurança, nunca se afasta irremediavelmente. Talvez o céu tenha uma dimensão de vaivém, não por capricho divino ou defeito improvável de criação, mas como alerta para a transitoriedade das coisas, para a necessidade de ser mais, de ser melhor. Talvez para a necessidade, ou fatalidade, de se tentar mais, de se falhar melhor.
Estás no céu. Aliás, estamos certos disso, já nasceste no céu, com uma marca de água clara que te decifrava o destino, te identificava como uma de nós, não sendo, no entanto, de nós. A tua pertença era-nos ilusória, porque os olhos que te viam na escuridão em que tantas vezes vivemos se fechavam demasiadas vezes, se fecham ainda demasiadas vezes para o que é importante. Estás no céu, porque foi lá que nasceste e te criaste, foi lá que agarraste uma realidade que nos ultrapassava. Desde sempre que o teu céu está à mesma distância de nós, a tua mão sempre estendida, o teu olhar sempre permanente. Talvez por isso o céu não seja uma inconstância, mas uma permanência. Só nós, nos nossos orgulhos, nos nossos rancores, nas nossas insensibilidade e nas nossas falhas é que somos uma inconstância e nos afastamos do céu onde moras e de onde derramas o Pó do Amor de que fugimos demasiadas vezes.
Não rezamos por ti; rezamos-te, para que nos ilumines, nos guies, nos defendas, nos mostres o caminho, por nós intercedas junto de Deus e de nós nunca te esqueças; para que o céu de onde nunca saíste seja tocado em permanência pelos nossos dedos frágeis, demasiadamente cerrados ou a dizer adeus, menos vezes abertos para acolher o Outro.
Na sua bondade sem fim
Quis Deus olhar para mim
Dar-me um pouco do que é seu
Deu-me uma estrela pequena
A quem chamou Madalena
Que é uma das santas do Céu
J (em nome de todos os que te lembram)
4 comentários:
Presente, João.
Um abraço forte,
gi.
Agradeço.
Outro para si.
Seguir a etiquete 'Anjo' até ao seu início, ler tudo com atenção foi, no meu entender, a minha melhor homenagem aos Pais.
Claro que me lembrei de quem são os «felizes» em Mateus e em Lucas.
Abraços
ea
ea,
Obrigado pela visita e pela mensagem.
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