15 março 2019

Poemas dos dias que correm

Um Outro que Não Eu

um outro que não eu
bem mais voraz
concreto
e subtil
te poderá depois talvez contar
destes momentos cúmplices de agora
perfeitos na intimidade
da vaga dor de cabeça

não te posso adiar por minha culpa
não te posso invocar
por excesso de altruísmo ou de rancor

arquitectura fria
dum gesto quase orgulho
do que já lá não coube
se nutre a tua imagem

mais fácil do que tudo
seria perdoar-me

perde-se o vício
por falta de virtude

Luís Amorim de Sousa, in 'Signo da Balança'

***

Coisas

há coisas que vão ficando
fotografias   louças   contas antigas
                            não sei

debruçámo-nos tanto
sobre a minúcia do quotidiano
       que o dia a dia excedeu as nossas vidas

não sei como resiste o que perdura

olho o telefone de coração na boca
e aponto coisas para não me esquecer

Luís Amorim de Sousa, in 'Nadar no Escuro'

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