Aqui há uns anos, no seguimento da produção de uma obra intelectual / artística, perguntei à sua autora: o que vai fazer com este sucesso? Um destes dias, falando com alguém que está a colher com sucesso o que tem vindo a semear inteligentemente há uns anos, perguntei-lhe: o que vai fazer com este sucesso?
Não entrando numa discussão sobre se nascemos bons e é a sociedade que nos estraga, ou o seu contrário, acredito que a generalidade das pessoas pretende fazer um caminho de melhoria contínua. Ou, sendo mais rigoroso, afirma que pretende fazer um caminho de melhoria contínua. Todos, no fundo, aspiramos a ser boas pessoas - ou, pelo menos, melhores pessoas. Cada uma destas pessoas escolherá o seu modelo, a sua cartilha, o seu manual de procedimentos. Uns revêm-se em Cristo ou nalguns santos, outros têm por modelo um familiar ou um amigo, outros seguem um caminho espiritual qualquer que os levará à harmonia com o universo e com os outros.
Gosto de seguir uma teoria que só aparentemente provou estar errada - mas não é por isso que deixo de acreditar nela. Sou dos que tendem a achar que a cultura, a amplitude de horizontes, a saída da sua zona de conforto poderá ser um caminho de aperfeiçoamento. Isto é, quanto mais conhecemos do mundo, quanto mais viajamos ou lemos ou sabemos dos outros maior possibilidade teremos de ser melhores. Aparentemente a teoria está errada: há cada vez mais gente a viajar e o mundo está pior. Sim, percebo o sed contra. Talvez, então, as pessoas não viajem, mas piquem o ponto no globo através de uma selfie.
Em cima desta teoria defendo outra: o sucesso pode ser um facto de crescimento pessoal, de caminho para um ser-se melhor. Eu explico: ter sucesso não é ganhar o totoloto, que é um jogo de azar. Ter sucesso assenta num conjunto de factores, o mais importante dos quais são as capacidades individuais de cada um - são essas, no limite, que permitem chegar-se a um determinado patamar. Mas, paralelamente, há um conjunto de outros factores: pessoas que permitiram que fôssemos o que somos; pessoas que nos ajudaram a ser o que somos ou que apostaram em nós, acreditaram em nós ou apenas nos estenderam uma mão ou disseram uma palavra certa. A pergunta o que vai fazer com este sucesso? não é uma pergunta óbvia para uma resposta óbvia. Não há, sequer, uma resposta certa. Talvez requeira uma resposta mais intangível, como ler a Bíblia ou viajar muito. Talvez requeira um agradecimento a este, àquele, ou apenas à vida.
Como dizia um dia destes a alguém, gosto que me digam obrigado. Não porque cumpri um serviço, mas porque isso revela uma gentileza do coração. Dizer obrigado é, por isso, terapêutico.
JdB
1 comentário:
a magia do obrigada!
eu sou das que não gosta de receber agradecimentos nem gosto de pedidos de desculpa.
Tenho de ler a bíblia e viajar mais ou menos?
Belíssimo texto
Obrigada
Enviar um comentário