“Bridge over troubled water”: 50 anos de um hino à amizade
A 26 de janeiro de 1970 saia “Bridge over troubled water”, de Paul Simon e Art Garfunkel, um dos álbuns de maior sucesso na história da música ligeira.
Todo o álbum é muito belo, como se pode confirmar, por exemplo, com “The boxer” ou “The only living boy in New York”, mas hoje detemo-nos na canção de abertura, que dá o título ao disco, canção que, nestes 50 anos, foi interpretada por muitos, de Elvis Presley a Aretha Franklyn (ambos insistindo na sonoridade “gospel” já presente na versão original).
“Bridge over troubled water é um hino à amizade, um tema que Simon e Garfunkel tinham já narrado, partindo da sua experiência biográfica, em “Bookends”, com trechos explícitos como “Old friends”, mas com esta composição há um salto qualitativo.
Trata-se, sem dúvida, de uma das mais belas canções dedicadas à amizade, que C.S.Lewis define no ensaio “Os 4 amores” «não em sentido pejorativo o menos natural dos afetos naturais, o menos instintivo, orgânico, biológico, gregário e indispensável. (…) Única entre todos os afetos, ela parece elevar o homem ao nível dos deuses, ou dos anjos».
Há um “anjo” entre as linhas do texto, e não é tanto a misteriosa “silver girl” com que se abre a terceira estrofe, mas é a amizade que liga os dois e os mantém em contacto precisamente como uma ponte.
Alguma coisa de sólido que sobressai sobre as «águas agitadas», porque a vida é inquietude, e esta agitação pode ser mortal se não se está em companhia de alguém para enfrentar o momento «when darkness comes».
É esta a imagem poderosa intuída pelos autores: o amigo é uma ponte, e é esplêndido o verbo utilizado, «I will lay me down”: o amigo estende-se, e assim lança uma ponte entre ele e o outro, e por isso conseguirá intervir «quando as lágrimas estiverem nos teus olhos, enxugá-las-ei todas» (clara citação de Apocalipse 21,4: Ele [Deus] enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor. Porque as primeiras coisas passaram»).
É belo voltar a escutar, com gratidão, esta canção que recorda as coisas elementares que constituem a vida humana, num momento como o atual, em que de amigos, isto é, de “pontífices”, há urgente necessidade.
Andrea Monda
In L'Osservatore Romano
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado pelo SNPC em 28.01.2020
As melhores viagens são, por vezes, aquelas em que partimos ontem e regressamos muitos anos antes
30 janeiro 2020
Texto e música dos dias que correm
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