30 março 2022

Vai um gin do Peter’s ?

 VALE A PENA CONFIAR? EM QUÊ /QUEM?

É tão difícil manter a tranquilidade em tempos conturbados! Mas, curiosa e também ironicamente, é mesmo nos contextos turbulentos e perigosos que ela faz mais falta. Por isso, hoje vêm especialmente a propósito escritos inspirados do cientista-jesuíta francês Pierre Teilhard de Chardin. Parece feita para os nossos dias, como acontece nos grandes escritos, por onde ecoa uma lucidez universal e intemporal.  

«ADORA E CONFIA

Não te deixes inquietar com as dificuldades da vida, com os seus altos e baixos, com as suas desilusões, pelo futuro mais ou menos sombrio. Quer o que Deus quer.

Oferece-Lhe, no meio das preocupações e dificuldades, o sacrifício da tua alma simples, que apesar de tudo aceita os desígnios da Sua providência.

Pouco importa se te consideras um frustrado, se Deus te considera plenamente realizado, ao Seu gosto.

Perde-te, confiando cegamente, nesse Deus que te quer e que vem até ti, mesmo que O não vejas.

Pensa que estás nas Suas mãos, tanto mais fortemente agarrado quanto mais apático e triste estiveres.

Vive feliz. Imploro-te. Vive em paz. 
Que nada te possa perturbar. 
Que nada te consiga tirar a tua paz.
Nem a fadiga mental. Nem as falhas morais.

Faz com que brote, e mantém-no sempre no teu rosto, um sorriso doce, reflexo daquele que o Senhor te dirige continuamente.

E no fundo da tua alma coloca, em primeiro lugar, como fonte de energia e critério de verdade, tudo aquilo que te enche da paz de Deus.

Lembra-te: tudo aquilo que te deprime e inquieta é falso. Isto te asseguro em nome das leis da vida e das promessas de Deus.

Portanto, quando te sintas desolado, triste, adora e confia.

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ABOVE ALL, TRUST IN THE SLOW WORK OF GOD

We are quite naturally impatient in everything to reach the end without delay.

We should like to skip the intermediate stages.

We are impatient of being on the way to something unknown, something new.

And yet it is the law of all progress that it is made by passing through some stages of instability— and that it may take a very long time.

And so I think it is with you; your ideas mature gradually—let them grow, let them shape themselves, without undue haste.

Don’t try to force them on, as though you could be today what time (that is to say, grace and circumstances acting on your own good will) will make of you tomorrow.

Only God could say what this new spirit gradually forming within you will be.

Give Our Lord the benefit of believing that his hand is leading you, and accept the anxiety of feeling yourself in suspense and incomplete.» 

Teilhard de Chardin tinha especial autoridade para proferir um voto de confiança maior na Vida, ele que realizou avanços prodigiosos na ciência e na teologia, fazendo-as caminhar a par e passo, numa interligação original que foi mal percebida pelo Santo Ofício. A partir de 1925, viu a sua actividade académica e de investigação cada vez mais cerceada e criticada, quer pelos seus superiores na Companhia de Jesus, quer pelo Vaticano. Mas quis sempre continuar ao lado dos seus irmãos jesuítas e no seio da Igreja, fossem ou não percebidas e aceites as suas ideias mais vanguardistas. Nas linhas que escreveu enquanto prestava serviço militar na Primeira Guerra Mundial disse o que poucos teriam ousado dizer, menos ainda escrever: «a guerra foi [para mim] um encontro com o Absoluto». Recebera a fé da mãe, que descendia de Voltaire. Nos últimos anos, Chardin viveu em Nova Iorque, onde morreu no dia que mais gostava (escreveu-o): um Domingo de Páscoa, corria o ano de 1955. 

Teilhard de Chardin: paleontólogo investigador & académico e, em simultâneo, sacerdote-teólogo & filósofo até ao âmago.

Foi postumamente que muitos cientistas, teólogos e Cardeais da Curia Romana confirmaram o arrojo extraordinário do seu pensamento. Francisco citou-o na Encíclica «Laudato Si» e Ratzinger/Bento XVI em dois dos seus livros de fundo (Introdução ao Cristianismo(1) e Introdução ao Espírito da Liturgia). Na qualidade de porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi (também Jesuíta) clarificou, em Julho de 2009: «Hoje, já não ocorre a ninguém dizer que [Teilhard] é um autor pouco ortodoxo, que não deveria ser estudado.» 

Também esta hora crítica para o continente europeu e para o mundo merecerá confiança (reforçada), até para se criar o espaço favorável a um desenlace positivo e muito criativo, capaz de desatar os nós intrincados do nosso presente, como implorou o Papa Francisco a Nossa Senhora, na oração de Consagração da Rússia e da Ucrânia, na Sexta passada – dia 25 de Março.  

Maria Zarco

(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)

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 (1)  Escreveu Ratzinger, décadas antes de se tornar Papa: «It must be regarded as an important service of Teilhard de Chardin's that he rethought these ideas [do pensamento cristão] from the angle of the modern view of the world and, in spite of a not entirely unobjectionable tendency toward the biological approach, nevertheless on the whole grasped them correctly and in any case made them accessible once again


1 comentário:

Anónimo disse...

Teilhard de Chardin foi um jesuíta mas não foi um cientista.
Basta ler o que Joseph Ratzinger escreveu acerca dele.
Vá lá Maria... cuide do que escreve.
cumps

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