01 fevereiro 2009

Textos dos dias que correm

Quanto eu gosto de ver no chão das catedrais (Chartres) ou nas traves da nave principal (Lucca) um labirinto gravado! Houve um tempo em que os homens sabiam que a imagem do caminho é a figura da própria existência. Mas no tempo das vias de comunicação globais e das altíssimas velocidades, perdemos o saber das viagens profundas.

Todos os labirintos começam e terminam no coração do homem, mas este tem vastidões que ignoramos, desertos que só pressentimos, silêncios maiores que todo o silêncio, aberturas para muito longe. Raramente nos dispomos a percorrer semelhante paisagem. Os seus caminhos são duros, de uma esperança estreita e áspera, mas também purificadora. Reconduzem o coração, escravo de tantas dispersões, à utopia de um centro. Permitem refundar a vida. Morte e renascimento; cruz e ressurreição; inverno e primavera.

Peregrinar é aceitar percorrer nas estradas de hoje o antiquíssimo labirinto penitencial que as catedrais tinham gravado: redescobrir pelo apagamento a verdade do que se é; experimentar na pobreza o sentido do que se possui; reinventar na errância o endereço das construções sedentárias que nos motivam; medir no eterno a direcção do provisório.

Texto de José Tolentino Mendonça retirado daqui

1 comentário:

Anónimo disse...

várias foram as vezes em que tive a honra e o privilégio de escutar as homilias deste homem que, tendo dedicado a sua vida a Cristo, continua a ser um cidadão do mundo, um homem com uma sensibilidade e beleza extremas, que nos interpela e nos faz sentir o evangelho de uma nova perspectiva. Bem haja Pe.Tolentino

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