Estou indignado, revoltado e furioso.
Não aceito e não me conformo com certos factos que sucedem, e cujo acontecimento revela toda a bestialidade que teima em continuar a existir no ser humano e na sociedade que o enquadra.
Os factos são simples de enunciar. Num quadro de triângulo amoroso protagonizado por certa actriz muito popular, foi assumido por uma senhora uma continuada relação amorosa com o “companheiro” da primeira, tudo com mediatização plena, incluindo transmissão em directo pela TV da dita confissão e publicação nas capas das revistas da especialidade e jornais diários generalistas.
Até aí, ainda que não compreenda esse mundo e não aceite os seus valores, reconheço que o desfasamento é meu, pois tudo isso é parte de um “mercado” poderoso e com múltiplos interesses envolvidos.
É a feira das vaidades no seu melhor (ou pior), que todos conhecemos. Toda essa bisbilhotice faz parte do show business, por muito que tal fira conceitos e valores relevantes. São as regras de um certo jogo que, de modo consentido e consciente, os protagonistas aceitam jogar, como inerência aos seus objectivos profissionais, sociais ou outros.
É a cave que se paga para jogar o jogo da fama, é a franquia que se suporta para a popularidade.
No caso concreto, os ingredientes não podiam ser mais do agrado da populaça que consome o “produto”, pois estava lá todo o necessário à escandaleira que entusiasma, agrada e satisfaz a turba: amor, traição, ciúme, mentira, sexo, depressão, ruptura, arrependimento, reconciliação, vingança, e tudo o mais.
Sórdido, mas real show como parece que tem de acontecer para que o espectáculo siga continuando. Aliás, estas badalações nunca têm efeitos nos próprios, porque socialmente são ungidos com o direito aos maiores dislates, cambalhotas e desfaçatezes. Podem fazer o que bem quiserem que são sempre compreendidos, aceites, absolvidos e recompensados, desde que mantenham a produção de notícias escaldantes e, se possível, algo escabrosas, para deleite dos fieis que seguem as suas vidas, com laivos de patologias psicológicas que dariam crónicas e mais crónicas aos especialistas.
Portanto, até aqui não haveria nada de novo que me pudesse transtornar e determinar a obrigação cívica, moral e intelectual deste escrito
Porém, após a confissão televisiva da referida senhora, sucedeu o inaceitável e horroroso.
Certos “media”, especializados na matéria, procederam a uma investigação à vida daquela que confessou ser a amante do companheiro da diva, e, pelos seus critérios, saiu-lhes de facto o totoloto, pois descobriram que a senhora exerce a actividade de prostituta, sendo aquela que se anuncia como a “Tia de Cascais” nos anúncios de prestação desses serviços publicados nas páginas dos jornais .
Sem hesitar, publicaram sofregamente a descoberta, em grandes parangonas e com honras de primeira página, com todos os detalhes, incluindo os termos do agenciamento e conclusão dos negócios, preço e natureza dos serviços prestados, tudo sempre enquadrado pela fotografia da senhora, em grande plano, e com indicação do seu nome completo.
Para não haver dúvidas da eficácia assassina, o povo ficou a saber tudo, e foram-lhe fornecidos, à exaustão, os elementos identificadores da senhora, por forma a que jamais a megera possa passar desapercebida onde quer que seja. Conhece-se o que faz, a cara e o nome.
Satisfeitos com a missão cumprida, de consciência tranquila pelo serviço público prestado… liquidaram, assim, uma pessoa.
Tudo isto já é mau demais para ser verdade, e não é preciso o meu escrito para repudiarmos estes linchamentos públicos animados de revanchismo e ódio.
Mas, o que dói e revela a bestialidade e crueldade de todas as pessoas que participaram neste linchamento, e que ufanamente se consideram jornalistas, é o facto de a senhora ter três filhos menores.
Crianças e adolescentes cujas vidas ficam irremediavelmente afectadas pela crueldade exercida sobre a sua Mãe.
Crianças e adolescentes que ficam maculados para sempre com o anátema, o opróbrio, com a marca a fogo de, publicamente, a sua Mãe ser denunciada, escarnecida, acusada de ser prostituta.
Nenhuma das bestas que executou e consentiu no plano de denúncia da senhora pensou nos filhos desta e nos catastróficos e irremediáveis danos que lhes seriam causados.
Estes monstros insensíveis não hesitaram em sacrificar três crianças. A sede de vingança, de aniquilamento, impôs-se ao respeito pelos filhos, à recusa em fazer vítimas indefesas, à degola dos inocentes.
Pergunto-me: como se sobrevive à capa sucessiva de jornais em que a Mãe é identificada com fotografia, nome completo e, depois em título, que se trata de uma prostituta?
Como enfrentarão estes filhos a vida? Como superarão a humilhação, a vergonha, a dor? Como lidarão com a diferença e discriminação? Como ficará a relação com a sua Mãe? Que sentimentos se modificarão, se extinguirão ou nascerão?
Três crianças são vítimas de uma tragédia que só a maldade, mesquinhez, irresponsabilidade e crueldade dos vampiros e abutres de certo jornalismo determinaram.
Recuso-me a não denunciar, protestar e acusar esses autores de um crime gravíssimo de violência e abuso sobre menores, exigindo a sua severa condenação nem que seja neste Blogue, já que outros parecem não querer saber.
Este texto é um manifesto de defesa dos menores que, constantemente, são violentados e abusados, até, como é o caso, por razões absolutamente fúteis e desproporcionadas, sem interesse nenhum, sem justificação ou desculpa possível.
Que fique bem claro, para que não haja confusões, que não isento de responsabilidades a Mãe, que criou a situação e as condições para o seu aproveitamento; reconheço-lhe, igualmente, culpas maiores. Mas a loucura, oportunismo, depravação, ou seja o que for da senhora, não podiam ser aproveitados por pessoas – jornalistas – a quem se exige clarividência, exercício de valores e respeito de limites, que neutralizem ou temperem a irresponsabilidade, insanidade, perturbação, distúrbio patológico ou outros, das pessoas. A honra e deontologia da profissão de jornalista importa o respeito e a consciência dos efeitos, não se aproveitando ou abusando dos fracos ou incapazes.
Espero que compreendam porque divergi do teor que normalmente adopto para estas crónicas do Largo da Boa-Hora, mas a consciência impõe a denúncia, a manifestação de revolta contra a barbárie. É o que faço.
ATM
Não aceito e não me conformo com certos factos que sucedem, e cujo acontecimento revela toda a bestialidade que teima em continuar a existir no ser humano e na sociedade que o enquadra.
Os factos são simples de enunciar. Num quadro de triângulo amoroso protagonizado por certa actriz muito popular, foi assumido por uma senhora uma continuada relação amorosa com o “companheiro” da primeira, tudo com mediatização plena, incluindo transmissão em directo pela TV da dita confissão e publicação nas capas das revistas da especialidade e jornais diários generalistas.
Até aí, ainda que não compreenda esse mundo e não aceite os seus valores, reconheço que o desfasamento é meu, pois tudo isso é parte de um “mercado” poderoso e com múltiplos interesses envolvidos.
É a feira das vaidades no seu melhor (ou pior), que todos conhecemos. Toda essa bisbilhotice faz parte do show business, por muito que tal fira conceitos e valores relevantes. São as regras de um certo jogo que, de modo consentido e consciente, os protagonistas aceitam jogar, como inerência aos seus objectivos profissionais, sociais ou outros.
É a cave que se paga para jogar o jogo da fama, é a franquia que se suporta para a popularidade.
No caso concreto, os ingredientes não podiam ser mais do agrado da populaça que consome o “produto”, pois estava lá todo o necessário à escandaleira que entusiasma, agrada e satisfaz a turba: amor, traição, ciúme, mentira, sexo, depressão, ruptura, arrependimento, reconciliação, vingança, e tudo o mais.
Sórdido, mas real show como parece que tem de acontecer para que o espectáculo siga continuando. Aliás, estas badalações nunca têm efeitos nos próprios, porque socialmente são ungidos com o direito aos maiores dislates, cambalhotas e desfaçatezes. Podem fazer o que bem quiserem que são sempre compreendidos, aceites, absolvidos e recompensados, desde que mantenham a produção de notícias escaldantes e, se possível, algo escabrosas, para deleite dos fieis que seguem as suas vidas, com laivos de patologias psicológicas que dariam crónicas e mais crónicas aos especialistas.
Portanto, até aqui não haveria nada de novo que me pudesse transtornar e determinar a obrigação cívica, moral e intelectual deste escrito
Porém, após a confissão televisiva da referida senhora, sucedeu o inaceitável e horroroso.
Certos “media”, especializados na matéria, procederam a uma investigação à vida daquela que confessou ser a amante do companheiro da diva, e, pelos seus critérios, saiu-lhes de facto o totoloto, pois descobriram que a senhora exerce a actividade de prostituta, sendo aquela que se anuncia como a “Tia de Cascais” nos anúncios de prestação desses serviços publicados nas páginas dos jornais .
Sem hesitar, publicaram sofregamente a descoberta, em grandes parangonas e com honras de primeira página, com todos os detalhes, incluindo os termos do agenciamento e conclusão dos negócios, preço e natureza dos serviços prestados, tudo sempre enquadrado pela fotografia da senhora, em grande plano, e com indicação do seu nome completo.
Para não haver dúvidas da eficácia assassina, o povo ficou a saber tudo, e foram-lhe fornecidos, à exaustão, os elementos identificadores da senhora, por forma a que jamais a megera possa passar desapercebida onde quer que seja. Conhece-se o que faz, a cara e o nome.
Satisfeitos com a missão cumprida, de consciência tranquila pelo serviço público prestado… liquidaram, assim, uma pessoa.
Tudo isto já é mau demais para ser verdade, e não é preciso o meu escrito para repudiarmos estes linchamentos públicos animados de revanchismo e ódio.
Mas, o que dói e revela a bestialidade e crueldade de todas as pessoas que participaram neste linchamento, e que ufanamente se consideram jornalistas, é o facto de a senhora ter três filhos menores.
Crianças e adolescentes cujas vidas ficam irremediavelmente afectadas pela crueldade exercida sobre a sua Mãe.
Crianças e adolescentes que ficam maculados para sempre com o anátema, o opróbrio, com a marca a fogo de, publicamente, a sua Mãe ser denunciada, escarnecida, acusada de ser prostituta.
Nenhuma das bestas que executou e consentiu no plano de denúncia da senhora pensou nos filhos desta e nos catastróficos e irremediáveis danos que lhes seriam causados.
Estes monstros insensíveis não hesitaram em sacrificar três crianças. A sede de vingança, de aniquilamento, impôs-se ao respeito pelos filhos, à recusa em fazer vítimas indefesas, à degola dos inocentes.
Pergunto-me: como se sobrevive à capa sucessiva de jornais em que a Mãe é identificada com fotografia, nome completo e, depois em título, que se trata de uma prostituta?
Como enfrentarão estes filhos a vida? Como superarão a humilhação, a vergonha, a dor? Como lidarão com a diferença e discriminação? Como ficará a relação com a sua Mãe? Que sentimentos se modificarão, se extinguirão ou nascerão?
Três crianças são vítimas de uma tragédia que só a maldade, mesquinhez, irresponsabilidade e crueldade dos vampiros e abutres de certo jornalismo determinaram.
Recuso-me a não denunciar, protestar e acusar esses autores de um crime gravíssimo de violência e abuso sobre menores, exigindo a sua severa condenação nem que seja neste Blogue, já que outros parecem não querer saber.
Este texto é um manifesto de defesa dos menores que, constantemente, são violentados e abusados, até, como é o caso, por razões absolutamente fúteis e desproporcionadas, sem interesse nenhum, sem justificação ou desculpa possível.
Que fique bem claro, para que não haja confusões, que não isento de responsabilidades a Mãe, que criou a situação e as condições para o seu aproveitamento; reconheço-lhe, igualmente, culpas maiores. Mas a loucura, oportunismo, depravação, ou seja o que for da senhora, não podiam ser aproveitados por pessoas – jornalistas – a quem se exige clarividência, exercício de valores e respeito de limites, que neutralizem ou temperem a irresponsabilidade, insanidade, perturbação, distúrbio patológico ou outros, das pessoas. A honra e deontologia da profissão de jornalista importa o respeito e a consciência dos efeitos, não se aproveitando ou abusando dos fracos ou incapazes.
Espero que compreendam porque divergi do teor que normalmente adopto para estas crónicas do Largo da Boa-Hora, mas a consciência impõe a denúncia, a manifestação de revolta contra a barbárie. É o que faço.
ATM
7 comentários:
Estou consigo!
fq
Brilhante descrição dos males que ficam impunes e das vitimas ignoradas.
moc
Concordo em absoluto, mas...
Quando essa senhora veio para a Tv dar continuidade à lavagem de roupa suja que já tinha encetado nas revistas, devia ter pensado nos filhos.
E depois, ATM, também há crianças do lado dos "atacados", que viram a vida dos pais devassada pela mentira e a calúnia. No total, são 5.
Quanto aos jornalistas, acredite que no império Impala ou fazem o que a directoria manda, ou a porta da rua é serventia da casa.
Quanto à reguladora da deontologia, a Comissão da Carteira de Jornalistas, só tem olhos para algumas situações de falta de ética, estas que enxovalham as pessoas não fazem parte dos seus critérios.
Esses "jornalistas" com vocações mediocres: fim ultimo: deter uma parcela minima de poder e emaranhar de tal modo os fios que ninguém estará em condições de os destrinçar. Velha receita comprovada.
Paralelamente há " um Ser justo".
Destes dois só o ultimo é indispensável.
ATM,
Quando neste País existir uma coisa chamada "O direito superior da criança", alguns atropelos deixam de acontecer.
Os meninos de "Uma canção para ti", que passa na TVI, ao domingo, sendo programa educativo, pois, muitas crianças ficam a conhecer a verdadeira história da canção portuguesa.
A vida deles tem sido devassada, achincalhada, pelos jornalistas e ninguém faz nada.
Quando o querer ser famoso, é o mais importante, tudo o resto não conta.
Quantos filhos de Prostitutas, são crianças amadas e vivem vidas dignas?
Quantas filhos de "Tias de Cascais", deveriam ser rápidamente tiradas, pela Protecção de Menores e Crianças em Risco, pois a violência doméstica é imensa, mas é abafada pelos médicos "Amigos".
Indignemo-nos e critemos bem alto a grande injustiça que se vai cometer hoje, que a pequena Natália, por ordem de um Meretissimo Juíz, vai hoje ser mandada para a Russia, é filha de uma alternadeira alcoolica e drograda, e os pais afectivos de à 5 anos a esta parte afirmaram em tribunal que a menina, quando chegar à russia vai ser vendida.
Conclusão: antes de querermos ser famosos, ou de tirar fotos para as Playboys, vamos pensar, que o dinheiro não é tudo, mas os nossos filhos são tudo.
Parabéns ATM.
Até para a semana.
Pequena correcção a menina chama-se Alexandra e não Natália.
Apontar é feio, um pouco menos quando coisas feias se apontam. Concordando com a generalidade do que foi escrito no Largo da Boa Hora e tendo em conta o que foi dito acima (DaLheGas), culpado é quem consome a porcaria que por aí se vende. Encontrar soluções para este problema é pano para muitas mangas mas, ATM, sublinho e subscrevo, muito pouco se pensa no mal dos outros,muito menos do que se devia!
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