25 junho 2009

A História de um Chapéu (parte II)

Foi aí que comecei a reparar mais neste estranho chapéu... Era como se ele tivesse uma vida própria. Saltava de pessoa para pessoa com uma graça e precisão que me deu que pensar... Comecei a dar atenção quando o padrinho de casamento resolveu fazer um brinde. Pôs-se de pé, arrancou o chapéu ao noivo e pousando-o na cabeça pediu a atenção de todos. O padrinho era um tipo engraçado. Vistaço, era mesmo o estéreotipo do eterno solteirão. De copo na mão falava sobre tudo o que tinha feito com o noivo, de todas as suas conquistas e de todas aquelas coisas que se dizem nestas alturas para nos envergonhar. Sentadas na ponta da mesa estavam um grupo de raparigas que lhe faziam olhinhos. Já tinha namorado todas. E hoje estava confiante que arranjaria uma diferente. Mas apesar de todas as mulheres, bebedeiras, aventuras e histórias que tinha para contar este padrinho estava muito infeliz. Porque é que não podia ser ele ali sentado a ouvir os seus amigos a contar histórias sobre ele? Porque é que não podia ser ele que finalmente encontrava as mulher da sua vida? Naaa... Estava muito melhor assim. Sem mulher e preocupações. Em vez de uma que o prendia, tinha várias diferentes que lutavam por ele. Isso sim era vida...

Nisto levanta-se o sogro. E também ele tira o chapéu para si e coloca-o na cabeça. O sogro naqueles longos discursos enfadonhos e cheios de significado que só os sogros sabem fazer, falava muito sobre o seu eterno amor com a sua mulher. O que é curioso é que tanto ele como a sua mulher eram os dois infelizes. Aparentemente tinham tudo. Uma filha bonita que agora se casava, o amor um do outro. De que mais precisavam? Secretamento ambos desejavam espaço para respirar. Descanso um do outro. Mas o medo de se perderem era tanto que se agarravam com unhas e dentes e não se largavam à coisa de 25 anos... Já nem sequer era um casamento saudável.

Depois do seu discurso o sogro arrastou a sua enorme barriga de volta para o seu lugar e deixou o chapéu do Avô Fausto em cima da mesa. Nisto aparece um sujeito com um ar esquisito e põe o chapéu na cabeça. Avança para o microfone e também ele começa a falar. Era um dos primos mais afastados. Daqueles que nunca ninguém se lembra bem do nome. Nem ele próprio sabia muito bem o que estava ali a fazer... Mas a sua mãe, coitadinha estava doente em casa, pedira-lhe para ler umas palavritas. E assim lá foi ele. Meio encolhido e envergonhado, sempre a sentir-se um bocado a mais. Verdade seja dita, ninguém ligou nenhuma ao que tinha a dizer. Mas ele fez a vontade de sua mãe, e meio desorientado tentou encontrar outra vez o caminho de volta para a sua mesa.

E assim se passou o jantar, os brindes e o bolo. Estava na hora da dança. O chapéu continuava a saltar animadamente de convidado para convidado. Até já havia um primo da noiva que se declarava à prima do noivo com o chapéu na cabeça. Ai se o Avô tivesse visto isto... Ele de joelhos muito corado, dizia-lhe o quanto gostava dela. E para seu próprio espanto ela pregou-lhe um beijo e arrastou-o para a pista de dança. Era a última vez que ele se declararia a alguém. Mal sabia na altura que ela era a mulher da sua vida. Que iria casar e ter uma batelada de crianças com ela. Mas era normal. Já estava a entrar na idade de arranjar alguém a sério...

(continua)

BG

5 comentários:

Anónimo disse...

O chapéu podia escrever um blog, tal como este. Tantas coisas tem o tal chapéu para contar...

Anónimo disse...

a sua escrita tem um ritmo giro, leve, alegre. espero pelas novas aventuras do chapéu ...pcp

cris disse...

Bernardo,

Que família, que festa de casamento.
o Avô Fausto, deve ter sido o máximo, pois, mesmo através do seu chapéu, consegue impôr a sua presença, despertar emoções, incutir respeito.
A imagem de marca do Avõ, é o seu chapéu. Espero ter mais histórias do Avô e do Chapéu.
Agora penso eu, que "chapéu" havemos de deixar, para as gerações seguites?
Qual vai ser a nossa imagem de marca....
Vou pensar qual vai ser a minha!...
Talvez escolha uma coisa sem valor material, pois ainda "vou acabar", à venda, numa qualquer casa de penhores.
Estou a adorar a sua escrita soft,
mas com um conteudo muito bom.
Temos escritor, que bom......
Até para a semana.....

maf disse...

BG, é caso para dizer : Se o Meu Chapéu Falasse !
Até para a semana .

Bernardo disse...

Obrigado por todos os comentários. Peço desculpa de não ter respondido antes mas estive sem Internet nestes últimos dias.
Muito obrigado pelos elogios que me dão confiança para continuar a escrever histórias como a do Chapéu.
Até quinta-feira.

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