29 junho 2009

Lanterna Vermelha

Diário de Amália, dia de S. Bernardo de Mentone, padroeiro dos alpinistas.

Relembro páginas do meu diário:

Georgette, uma das nossas operárias, é uma francesa lindíssima e elegante. Com mais de 1,80m, tem uma pele clara, muito clara, por vezes tão transparente que se lhe vêem as veias. Podia facilmente ter sido modelo, encantando as passerelles com vestidos bizarros de tules transparentes, uns cabelos pretos e longos, um nariz fino, duas maçãs do rosto ligeiramente salientes e um corpo de fazer inveja aos mais sadios. Optara, no entanto, por terminar os seus estudos na Sorbonne com um trabalho intitulado “A prostituição na epistolografia Portuguesa”, e decidira vir a Portugal fazer aquilo a que chamou, metaforicamente, um estágio.

Ao início mostrou-se algo relutante em diversificar a clientela mas, fosse por questões económicas ou desejo de levar a sua aventura para lá do Cabo das Tormentas, o facto é que foi preenchendo o seu carnet com marcações variadas. Confiava em absoluto na Dra. Clara para lhe escolher o cliente mais interessante – ou o mais aventuroso.

- Tu sais, Amalie, l’ aventure c’est tout. Il n’y a rien que celá. Et je crois que le mot aventure est français...

Recebeu o cavalheiro ao fim da noite de uma 4ªfeira gelada e chuvosa, filha de uma meteorologia própria da geografia montanhosa. Encostou-se ao meu balcão – fui confrontada, mais uma vez, com a sua altura - e, num português ainda afrancesado, revirando uns olhos de gozo e espanto, contou-me a sua hora.

- Sabes, Amália, o Sr. Marcolino é um homem extraordinário. Pediu-me para me deitar e deixar que fosse ele a agir sempre. Assim fiz. Recostei-me vestida na cama e fechei os olhos. O cliente pediu-me que não abandonasse nunca aquela posição. Acedi, sem saber se era uma espécie de fetiche, ou qualquer coisa do género. O Sr. Marcolino beijou-me longamente, ao início com ternura, avançando depois num crescendo de erotismo. Entreabriu-me os lábios e ali se demorou uma eternidade. E que bem que ele beijava... Oh, la la!

Seguidamente começou a despir-me. Peça a peça, fecho a fecho, botão a botão. Com vagar, como se não houvesse necessidade de cumprir uma hora de marcação, como um alpinista que sabe que a montanha está ali, e que só o prazer da lentidão lhe proporcionará o gozo final. Volta e meia perguntava-lhe se ele não queria que eu fizesse alguma coisa. Respondeu-me sempre que não, que o chefe da equipa era ele (e ria, quando dizia isto), que ele faria tudo, e que eu o seguisse, confiante da sua experiência de escalador. Sorria, e era mais uma peça que desaparecia; piscava os olhos e era uma mão a percorrer-me o corpo, encontrando nas neves altas, em que eu me tornei metaforicamente, um prazer ilimitado e próprio.

Percebi que os pés lhe diziam alguma coisa, porque foi lá que o Sr. Marcolino iniciou aquela subida de prazer. Massajou-os, beijou-os, sei lá mais o que fez. Depois foi por ali acima, lentamente, muito lentamente, como quem sobe a um pico de montanha consciente do cansaço - ou da estratégia. Demorou-se em todos os pontos, estabelecendo uma espécie de campos intermédios antes da arrancada final. Assim se passaram 50 minutos, porque, de facto, sempre tenho mais de 1,80 m, tu comprends… Beijos, afagos, mãos, língua, dedos. Uma técnica irrepreensível ao serviço do erotismo, da sensualidade, da atenção ao pormenor. Um verdadeiro alpinista com quilómetros de prazer nas suas botas fiáveis.

Os últimos 10 minutos… Enfim, acho que não preciso descrever-te o que foram, pois não? O Sr. Marcolino tinha terminado a sua escalada e respirava um oxigénio puro, abundante, revigorante, cravando o seu estandarte no ponto mais alto. Sentou-se ao meu lado na cama e voltou a mirar-me de alto a baixo, um verdadeiro sherpa que atenta na cordilheira que acaba de transpor. E sorriu.

Ai, Amalie, Amalie…

Georgette regressou ao quarto derramando, do alto de uma altura verdadeiramente obscena, uma elegância que esmagava. Da obra em frente, que teima em persistir até às calendas - ou até às próximas eleições - as melodias de sempre davam um ar da sua graça.

Lisboa não sejas francesa
Com toda a certeza
Não vais ser feliz
Lisboa, que idéia daninha
Vaidosa, alfacinha,
Casar com Paris
Lisboa, tens cá namorados
Que dizem, coitados,
Com as almas na voz
Lisboa, não sejas francesa
Tu és portuguesa
Tu és só pra nós

Cumpriu-se mais um dia. Mas é importante referir que o Sr. Marcolino, alpinista de uma montanha chamada Georgette, é anão.

MTS

4 comentários:

Anónimo disse...

... you naughty boy!! RF

cris disse...

MTS,

On étude comme ça, le travaille pratique, fait part des programmes scolaires!

Até para a semana....

maf disse...

rsrsrs naughty, naughty, mas pelo menos desta vez não ficámos a "águar" ! lololol A canção de Francisco José veio mesmo a calhar.
Boa semana, MTS

Ana CC disse...

Pois, fiquei embasbacada...
Que espectáculo. Até esta ordem se inverte "Peça a peça, fecho a fecho, botão a botão". Isto deve ser o cúmulo do erotismo...tira a peça de roupa depois abre os fechos e os botões... Parabéns e para a semana queremos mais.

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