Na ausência do nosso saudoso Philip – que a está hora já terá sido operado de urgência ao apêndice! - ficam uns excertos dum livro de caricaturas muito bem apanhado. Não sei se conhecem o Frederico Lourenço. Eu não o conhecia até o ter lido – por sugestão dum amigo – e nunca o tinha visto até ter sido entrevistado, há dois Domingos atrás, no programa Câmara Clara da Paula Moura Pinheiro. É um homem muito agradável, de voz serena e doce, dos seus 40 e tais, professor universitário em Coimbra e especialista na Grécia Antiga. Entre os vários livros que já publicou, aqui ficam alguns excertos de um intitulado “Caracteres” (Livros Cotovia).
Socorro-me do início do prefácio do livro para explicar a razão de ser deste nome: “Não seria exagero afirmar que, a seguir aos diálogos mais literariamente perfeitos de Platão (Protágoras e Banquete), a grande obra-prima da prosa grega é essa jóia que dá pelo nome de Caracteres. Foi composta no séc IV a.C. por Teofrasto, escritor natural da ilha de Lesbos, que se estabeleceria em Atenas para estudar com Platão e Aristóteles; consiste numa sequência de trinta caricaturas miniaturais em prosa, que delineiam, em poucas palavras, toda uma personalidade com traço certeiro, sarcástico e genialmente lacónico”.
Posto isto passo, passo à transcrição de algumas figuras escolhidas aleatoriamente duma obra com retratos “à portuguesa”, ou seja, retratos de figuras que se podem encontrar um pouco por todo o nosso Portugal. Espero que as reconheçam, não se incomodem com a mordacidade aguda e se riam!
O MONÁRQUICO DE ESQUERDA
O monárquico de esquerda não gosta de touradas e tem logo aí um doloroso problema de identidade. É pouco católico e pertence à Liga Anticinegética. É vegetariano e muito ligado ao mundo do teatro alternativo. Ainda não casou mas já tem dois filhos (Sancho e Duarte) de duas mulheres diferentes; uma, aliás, é uma brasa cabo-verdiana. É opositor de poses instituídas e, talvez por isso, nas últimas presidenciais votou em Manuel Alegre. Aos amigos que lhe perguntavam “então tu, um monárquico, vais votar nas presidenciais?”, respondia “é pá, é o dever cívico, estás a ver?”. À namorada que quis saber como é que ele se tornara monárquico, disse (um tanto acanhado) “é pá, era puto, era Natal; havia bolo rei, estás a ver?”
O PADRE SOCIAL
O padre social não se veste “à padre” e granjeia admiração entre a crítica feminina pelo acentuado bom gosto das suas gravatas (coisa típica, ao que se diz, de jesuíta). Sabe a que senhoras deve dar só um beijinho e sabe falar com grupos de jovens nas paróquias chiques com tal adequação à clientela que muitos dos jovens dão por si a tratá-lo por “tio” (e não por “senhor padre”). É esplêndido no aconselhamento a senhoras de uma certa idade e a fidalguinhas (…). Todos se deslumbram quando ele junta na mesma frase Mozart e Rui Veloso ou quando ostenta infindáveis conhecimentos futebolísticos. Defende as touradas dizendo que “é a única maneira digna de matar o animal” e franze o sobrolho se ouve comentários adversos sobre o General Pinochet. Não vê mal nenhum na associação entre dinheiro e religião, embora se mostre crítico relativamente ao BCP, já que, como jesuíta, não simpatiza com a O.D. Como qualquer pessoa tem os seus segredos. Desde que, bruscamente no Verão passado, teve um sonho em que era capelão militar( ….), fica toda a noite deitado na cama, de olhos abertos, com medo de adormecer.
O LATIFUNDIÁRIO ALENTEJANO
O latifundiário alentejano é simplesmente um português heterossexual que no seu íntimo não vê grande diferença entre uma mulher e uma galinha.
A PINTORA CHIQUE
A pintora chique tem sempre uma alcunha como Cucha, Lucha ou Gucha e vende todos os quadros, logo de uma assentada, na abertura das suas exposições. Nunca andou em Belas Artes, nem teve sequer uma aula de pintura. Um dia, depois de se maçar com o negócio de fazer tartes óptimas (sablées, apetitosíssimas), para vários restaurantes do Estoril, comprou telas, tintas, terebentina, óleo de linhaça … ah pois, também comprou, ao que parece, um jogo de pincéis. Tem um estilo francamente inapto, a que as pessoas finas do meio dela chamam naif. Há umas manchas coloridas nos seus quadros que representam flores; umas coisas rugosas que são conchas; muito, muito azul. “O mar”, exclamam todos. Houve até quem lhe chamasse a “pintora do azul”. Receosa de ficar conotada com temas azuláceos, pinta agora telas com enormes amontoados de coisas castanhas. “É a minha nova fase delabrée”.
Até à vista.
pcp
7 comentários:
De facto hilariante. Aguçou-me o apetite, pcp. Obrigada por nos trazer este mordassíssimo (??) Frederico Lourenço.
Maf
P.S. As melhoras do PO
Obrigada, maf. Hei-de transmitir-lhas logo. pcp
Que espanto, pcp. Ri-me imenso e vou ter de divulgar este autor por mtos amigos, q. tb se vao divertir à grande. Isto é do melhor. Obrigadíssima, pcp, por esta revoada de humor, mz
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