Os dias da semana
O Sol entrou no signo de Balança no dia 23 de Setembro. Balança
superintende o mundo das boas maneiras, e, nesta altura, tento remediar algum défice
de boa educação.
Nunca agradeci publicamente o dono deste blog, JdB. Aqui fica o meu muito obrigada por me dares a
oportunidade de me exprimir, divertir e informar. Muito obrigada por trazeres à
luz a astrologia vista pelos meus olhos. Muito obrigada pelas revisões do meu texto.
Muito obrigada pelo trabalho que tens a manter o site. Estes são os obrigadas óbvios.
Mas há mais um.
Obrigada por teres escolhido quarta-feira
para o meu dia de publicação, o dia em que em grande parte do mundo se celebra,
se bem que quase todos inconscientemente, o planeta Mercúrio, regente de Gémeos,
o meu signo. Por isso considero a
quarta-feira “o meu dia”.
O que é que isto tem a ver com a astrologia? Explico.
A semana de sete dias foi adoptada pelos Romanos entre do séc. III e IV. Os
legisladores basearam-se na obra do astrólogo grego Vettius Valens que viveu
entre os anos 120 e 175 d.C. Ele argumentava que cada dia devia ser regido por
um astro: um dia para o sol e outro para a lua e os restantes cinco para cada
um dos cinco planetas do sistema solar visíveis a olho nu. Mercúrio, Vénus, Marte,
Júpiter e Saturno. Também argumentava que a ordem deveria outra ser baseada em cálculos
utilizados na Babilónia. E assim o mundo civilizado da época, que falava latim,
começou a designar os dias da semana por Solis dies, Lunae dies,
Martis dies, Mercurii dies, Jovis dies, Veneris dies, Saturni dies.
O Imperador
Constantino, primeiro Imperador cristão, arranjou um compromisso entre o mundo pagão
e o religioso, e modificou Solis dies para Dominica dies (dia do Senhor).
Deixou os outros dias entregues aos deuses pagãos que tinham dado origem ao
nome dos planetas. Todas as outras línguas baseadas no latim mantiveram esta denominação:
espanhol, francês, romeno, catalão tem as suas versões de lunes, martes,
miercoles, jueves, e viernes. Sobre o sábado há divergências: uns, como nós, os espanhóis e italianos, fomos à tradição hebraica do Shabbat
e ficamos com sábado. Os franceses ficaram com samedi da denominação
original ligada a Saturno. Os povos de origem anglo-saxónica acharam esta
semana genial: mantiveram o Sun-day, Mon-day, Satur-day e foram buscar ao
seu panteão mitológico deuses equivalentes a Marte, Mercúrio, Júpiter e Vénus
para os outros quatro dias – Twi, Wodan, Thor e Frigge.
E nós os portugueses? Como é que ficamos
com designação hebraico-cristã utilizada pela Igreja? Dies domenica, feria secunda, feria tertia, feria quarta, feria quinta,
feria sexta e sabbatum?
Um bispo de Braga, no sec. VI, S. Martinho de Dume, muito empenhado em
eliminar traços de cultos pagãos, decidiu impor a terminologia eclesiástica num
contexto laico. E conseguiu… por isso
temos as nossas segundas, terças, quartas, quintas e sextas-feiras, o Shabbat
hebraico e o dia do senhor.
San Martín de Braga o de Dumio, miniatura del
Códex Albeldensis, a. 976, Biblioteca del Monasterio de San Lorenzo de El
Escorial, Madrid
Não estamos sós no mundo: os chineses, no princípio do séc. XX, num ataque
de secularidade, passaram a referir aos dias da semana, até então designados por
símbolos relativos aos astros, com números. Os Russos têm um sistema numérico,
mas consideram a segunda-feira como o dia um. Os Alemães por volta do ano 1000 passaram
a chamar à quarta-feira, Mittwoch (meio da semana). Tenho dificuldade em lhes
perdoar esta desconsideração ao Wotan / Mercúrio.
Carl Jung considerava que era importante, a nível do colectivo inconsciente
germânico, a modificação de Wodanstag para Mittwoch. Pergunto-me: qual tem sido
o significado para os povos que falam português, a nível do inconsciente, da acção
do Bispo de Braga que eliminou a nossa relação quotidiana com as energias planetárias?
Luiza Azancot
4 comentários:
Luiza: espero que me digas quando "algo" superintender a simpatia, para eu responder condignamente. É um gosto ter-te aqui, como sabes, numa espécie de homenagem a quem nos apresentou. De um ponto de vista egoísta, todos os teus posts acrescentam muito à minha cultura já tão depauperada, pelo que é sempre importante ler-te. Se algo superintender o "para sempre", agarra-te a ele e não o largues. Eu, editor e dono do estabelecimento, agradeço profusamente.
Concordo consigo, Luísa. Acho uma pena não termos uma relação mais próxima, através dos nomes dos dias da semana, com o cosmos. Muito mais colorido e interessante. Por vezes, só por uma questão religiosa, que pouco ou nada acrescenta, transformam-se tradições ricas e ancestrais. Gostei imenso de a ler. Contribuiu para o meu (pobre) enriquecimento cultural. pcp
Muito interessante.
fq
Mais uma vez interessantíssimo. Fico surpreendida com esta dimensão do conhecimento astrológico.
Volte sempre!
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