12 janeiro 2012

A Torre de Babel rui em pirilampos



Suava medo apertado. Aprisionada no labirinto da memória. Ou melhor, como um formigueiro hiperpovoado de obssessões. Era estúpido, absurdo! Tudo porque não conseguia encontrar as chaves do carro. E por mais voltas, curvas e contracurvas que desse, não havia ponto de chegada; também não o havia de partida… o comboio em que me encontrava ía seguir   (…,)

A Torre de Babel rui em pirilampos!

Estava enrolada na teia de mim mesma. Enroladíííssima! Cada vez suava mais. Perdida em mim e brevemente, se não encontrasse as chaves, perdida de tudo! O comboio ía seguir o seu percurso e se eu não saísse com o carro na minha estação, onde é que neste raio de país é que ía parar? Como me exprimir, me desenrrascar sob um céu sem Tempo, numa língua que não existia, nem arrancada? “Os bolsos existem! Os bolsos existem!” Neste eureka tão entre o querer que uma casa povoada de tempo surgisse erguida do nada. Fala-me o oxigénio. Levo os dedos aos bolsos. E então? Estão, estão lá?..., tudo me parece lixo. As chaves? Suava medo apertado. Apertado nos dedos. Apertado nos bolsos…, os dedos…, as chaves…, Sim? Não? Sim! Como não pensei nisso? As chaves do carro senão estivessem na carteira só poderiam estar nos bolsos do casaco! Foi como um veneno. Sobe, voa, esvai-se, e inspiro esta música. É na sabedoria do cinzento que descubro a diferença: entre o querer e o desejar.

Desejo obsessivamente. O espaço e a sua vasta dimensão não dão alternativa ao vazio, como lagartos dentro do pensamento.

Livre! As chaves! Fala-me, oxigénio! A Torre de Babel rui em pirilampos. É na sabedoria do cinzento que descubro a diferença.

V.N.C.


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