«Havia bom senso; mas estava oculto, por medo do senso comum»: esta é uma famosa frase do romance "Os noivos", de Alessandro Manzoni, que distingue os dois «sensos», colocando-os em contraste.
O primeiro, com efeito, poderia ser reconduzido à ideia de "sabedoria". Ele traduz a capacidade de examinar pessoas, coisas e acontecimentos com critério e juízo. É o dom do discernimento e da sensatez, é o evitar os extremos passionais, é o esquivar-se ao facciosismo, é o equilíbrio no saber julgar, e assim por diante.
Trata-se de um dom precioso que o cristão deve implorar ao Espírito Santo, fonte, precisamente, dos dons da sabedoria e do conselho.
Emboscado, todavia, há uma espécie de momice do bom senso, o «senso comum», que se disfarça com as características do critério, equilíbrio e sensatez acima evocadas, mas que na realidade é lugar comum, banalidade, tacanhez, conformidade, mesquinhez, hipocrisia.
François de La Rochefoucauld, moralista francês do século XVII, descrevia assim, nas suas "Máximas", um aspeto deste falso bom senso: «Raramente atribuímos o bom senso aos outros, a não ser àqueles que estão de acordo connosco».
Sim, porque o senso comum é muitas vezes usado para vantagem própria, é colocar ao próprio serviço a verdade de tal modo que se deixa a aparência mas corrói-se a substância.
Como Salomão no dia da sua entronização, peçamos a Deus «um coração que saiba sempre distinguir o bem do mal» (1 Reis 3, 9). É este o verdadeiro «bom senso».
P. (Card.) Gianfranco Ravasi
In "Avvenire"
Trad.: Rui Jorge Martins
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