Num gesto inédito de aproximação entre o Papa Francisco e Moscovo, que remonta a 2013, o Museu do Vaticano acordou um intercâmbio para exporem as obras de uns e de outros, ora na Rússia, ora em Itália.
O primeiro empréstimo fez rumar até um dos principais museus moscovitas – a Galeria de Arte Tretyakov – 42 telas míticas vindas do Sul da Europa, que «representam o melhor do melhor das colecções do Vaticano» – segundo o Director do Museu italiano, Antonio Paolucci. Implicaram, assim, «um grande sacrifício», pois o número de turistas da cidade papal chega a seis milhões, anualmente. O reverso positivo da medalha é animar o longo Inverno das populações das estepes da Ásia Central, a maioria das quais nunca saiu do seu país. Uma vez que cultura e sensibilidade artísticas não lhes faltam (genericamente falando), percebe-se o sucesso da revelação dos tesouros do Vaticano, nas imediações do Kremlin, onde ficarão expostos até 19 de Fevereiro de 2017.
O título da mostra explica bem quanto os anfitriões russos têm a noção de albergar, no coração de Moscovo, um recanto de luxo da cidade eterna. Por isso, lhe chamaram «Roma Aeterna».
Em Outono de 2017, será a vez de a Rússia emprestar ao Vaticano peças do seu riquíssimo espólio artístico.
Na óptica do curador da exposição moscovita, Arkady Ippolitov, pertencente ao Hermitage, os dois quadros fundamentais para os russos são a «Lamentação sobre Cristo morto», de Bellini (1471-74) e o «Milagre de S. Vincente Ferrer», de Ercole de'Roberti (1473). A temática dura da morte do crucificado não assusta, minimamente, os russos, pois a beleza da sua representação deixa antever o imenso mistério de amor que aquela dor exposta, afinal, encerra. A ternura que os amigos dedicam ao morto prefigura o rasto de Bondade que o último dos condenados inspira nos que lhe são próximos, demonstrando o alcance da certeza da grande Doutora da cristandade – Teresa de Ávila (1515-1582): «Morro, porque não morro»! De facto, é inusitado, mas significativo, poder fervilhar um certo fulgor de vitalidade junto a um cadáver, a ponto de Bellini não optar por uma Pietá, pois as lágrimas (sempre legítimas) mal têm aqui lugar. Toda a cena é de uma humildade incrível, dominando os tons barrentos de uma terra que volta a ser fecunda. Respira-se a mansidão que emana do Protagonista:
«Lamentação sobre Cristo morto», de Giovanni Bellini (1471-74).
Peça do Altar Pesaro; óleo sobre
madeira.
|
A segunda escolha do responsável do Hermitage corresponde a um retábulo longuíssimo, reunindo diversos episódios de uma extensa narrativa, num efeito que veio a ser replicado, na actualidade, pela banda desenhada e até pela sequência de imagens que formam o cinema. Uma solução bem mais comum do que se pensa, já na Idade Média e no Renascimento, em concreto na arte sacra:
Curiosamente, na óptica de Paolucci – as duas telas que considerava com maior potencial para impressionar os russos provinham de dois pintores maiores da arte Ocidental: Rafael e Poussin, que influenciaram artistas da Rússia, em estadias passadas em Roma, metrópole das artes e, por isso, ponto de encontro de artistas, ao longo dos séculos:
Tela de Rafael intitulada «Fé e caridade», mas sem a confirmação de pertença à colecção do Vaticano |
A concluir, para desejar a todos as Boas-Festas segue uma versão divertida da história do presépio, que transforma a conhecida Bohemian Rhapsody, dos Queen, em Bethlehemian Rhapsody. A letra foi reescrita por Mark Bradford e a curta-metragem realizada por Darla Robinson. Inspirador também para desejar um Novo Ano cheio de vigor e entusiasmo para apanhar a vida pelo lado melhor, como lembrava a personagem Brian – «Always look on the bright side of life» – tomando-se com liberdade e autenticidade a sugestão dos Monty Python:
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
Sem comentários:
Enviar um comentário