21 dezembro 2017

Poemas dos dias que correm

Natal Divino

Natal divino ao rés-do-chão humano,
Sem um anjo a cantar a cada ouvido.
Encolhido
À lareira,
Ao que pergunto
Respondo
Com as achas que vou pondo
Na fogueira.

O mito apenas velado
Como um cadáver
Familiar...
E neve, neve, a caiar
De triste melancolia
Os caminhos onde um dia
Vi os Magos galopar...

Miguel Torga, in 'Antologia Poética'

***

Não Digo do Natal

Não digo do Natal – digo da nata 
do tempo que se coalha com o frio 
e nos fica branquíssima e exacta 
nas mãos que não sabem de que cio 

nasceu esta semente; mas que invade 
esses tempos relíquidos e pardos 
e faz assim que o coração se agrade 
de terrenos de pedras e de cardos 

por dezembros cobertos. Só então 
é que descobre dias de brancura 
esta nova pupila, outra visão, 

e as cores da terra são feroz loucura 
moídas numa só, e feitas pão 
com que a vida resiste, e anda, e dura. 

Pedro Tamen, in 'Antologia Poética' 

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