Passar uns dias a navegar num barco-casa no Alqueva, almoçar feijoada de avestruz na maior exploração de avestruzes do país, acompanhada de bom tinto alentejano são alternativas acessíveis para explorar os 1100 kms de margens do gigantesco lago do interior alentejano, a 192 km de Lisboa pela A6 e A2.
Fotogr. aérea – © António Martins |
A vontade de combater a desertificação do interior, na linha do Guadiana, ganhou ímpeto durante o marcelismo. Fazia parte de um conjunto de iniciativas apostadas em dinamizar a economia do Alentejo. Outro caso emblemático era o ‘projeto de Sines’ para competir com Roterdão como porto de águas profundas (entre outras valências). De facto, a urgência em irrigar o Sudeste português e amenizar as temperaturas extremas já estavam na moda no final da década de 60. Mas fruto dos ventos da história – com duas crises petrolíferas (1973 e 1979), a somar à revolução, descolonização e duas bancarrotas no país – a edificação da barragem em Alqueva, para formar uma mega-albufeira, acabou por só arrancar em 1998 (tinha tido um arranque inconsequente de 1976 a 78) e terminar em Janeiro de 2002. No mês seguinte, fechavam-se as comportas e começava o enchimento dos 250 km2 da albufeira, concretizando um sonho já com meio século.
A Central hidroeléctrica da barragem em arco foi inaugurada em 2004 |
Mapa do Grande Lago do Alqueva, situado na raia e equidistante de Évora e Beja |
Rapidamente, os programas despontaram como cogumelos: windsurf, ski aquático, vela em veleiros regulares ou numa embarcação holandesa de 1913, casas flutuantes, mergulho, bicicletas de água e gaivotas, remo, kayaks, pesca, além de provas de vinhos nas grandes herdades das imediações (ex: Esporão).
Praia fluvial de Monsaraz |
Baias com praias fluviais, ancoradouros e marinas abundam entre as ilhas de todos os tamanhos. |
A ‘casa portuguesa flutuante’ – marina da Amieira |
Campeonato internacional ‘Monsaraz Windsurf Festival’. |
Percorrer as infinitas reentrâncias da albufeira ocupará mais de uma semana, sem contar com as muitas aldeias e cidades históricas perto das suas margens, a merecerem visita.
Das 426 ilhas do Grande Lago, 40 estão classificadas do ponto de vista ambiental como ‘intocáveis’. Uma ilha é conhecida por «Pepitas Douradas» ou «Ilha da Páscoa» por causa do contorcionismo exuberante das suas formações rochosas. E a temperatura da água na sua baía a 30º C tornam o banho uma tentação irresistível, sem risco de choque térmico.
À semelhança de Nova Iorque, também o Alqueva nunca dorme com aventuras à luz das estrelas. Só é pena Sinatra não o ter conhecido e acrescentado à sua música. O ‘Dark Sky’ foi idealizado por um belga, para proporcionar observação astronómica durante um passeio de barco nocturno. Avistam-se constelações, a galáxia Andrómeda e, com sorte, estrelas cadentes. Em noites de lua cheia, vêem-se menos estrelas mas, para compensar, a paisagem fica envolta numa luminosidade esbranquiçada, etérea e fascinante.
Os fãs do anoitecer no Alqueva estão em crescendo |
Percebe-se que no Alqueva cada fase do dia tem um programa específico e uma magia própria, sendo mais uma alternativa para mini-férias neste Outono solarengo e acabado de começar.
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
2 comentários:
Tudo lindo.
A gaita é que em portugal é proibido levar o gado a beber na albufeira, é proibido lançar lixo e dejectos na albufeira, é proibido usar a água da albufeira para rega. Aliás a rede de transvase prevista há décadas para as terras do Sado e do Tejo ainda está a fazer-se.
Os espanhóis mandam-nos ... e fazem tudo nas suas margens.
Maria (ou o que for), seja honesta.
ao
E é tão típico passar entre os pingos.
Há gente que não tem hormonas para escrever 'errei' ou 'falhei'.
Todos nós somos bem-aventurados.
Enviar um comentário