«Isto de ser um ateu católico não é fácil e inquieta»
«“O mundo existe para todos, porque todos os seres humanos nascem nesta Terra com a mesma dignidade”, diz o papa Francisco na última encíclica, “Fratelli tutti”. Não foram estes os ensinamentos que a Igreja me deu, não é essa a história desde há muito tempo.»
A encíclica “Todos irmãos” constitui o principal fundamento para o texto que o comentador político Pedro Marques Lopes na crónica semanal que assina do “Diário de Notícias”, intitulada “Quo vadis, Francisco?”.
«O encantamento com que fui lendo a última encíclica papal, “Fratelli tutti”, foi-se misturando com uma espécie de angústia, perguntas que me ia esforçando por afastar: e se tivesse sido isto? E se fosse esta a prática, tivessem sido estes os ensinamentos? Se fosse este carinho, esta hospitalidade para as nossas fraquezas, esta compreensão da nossa natureza, ter-me-ia afastado da Igreja? Se fosse este o entendimento da nossa vida em comunidade, ter-me-ia afastado da Igreja?», interroga.
Depois de citar o Evangelho (Mateus 18,18, «em verdade vos digo: Tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo o que desligardes na Terra será desligado no Céu», assinala: «A mim desligaram-me na terra e entupiram-me a comunicação. No fundo, desligando-me na Terra com atos e omissões negaram-me a possibilidade da fé, até a possibilidade de Deus».
«A Igreja é feita de homens, e estes erram. Pois, foram demasiados a errar. E continuam a errar e a promover o erro e a desumanidade», aponta, antes de concluir com uma referência inspirada na encíclica «Todos os seres humanos nascem nesta Terra com a mesma dignidade» (n. 5)
Pedro Marques Lopes também menciona as palavras de Francisco sobre a legislação relativa às uniões civis entre pessoas do mesmo sexo, recuperadas no documentário “Francesco”, tema que por estes dias tem mobilizado colunistas, para quem, independentemente das suas posições quanto à fé cristã e à Igreja, não têm sido indiferentes as palavras do papa.
Com efeito, aquelas «palavras de Francisco ecoarão na Igreja, merecendo a alegria e eco de muitos e a repulsa dos que o abominam; darão alento aos que se batem contra a discriminação e talvez façam pensar duas vezes os que desejam reforçá-la; e a cidade inteira as discutirá, as opiniões e práticas da Igreja não tocam apenas os fiéis», observa o psiquiatra, «agnóstico», Júlio Machado Vaz, no “Jornal de Notícias” de domingo.
Rui Jorge Martins
Fontes: Diário de Notícias (Pedro Marques Lopes), Jornal de Notícias (Júlio Machado Vaz)
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