14 outubro 2021

Do rugby como análise de carácter

 Vejo um jogo de rugby no qual os jogadores têm menos de 18 anos. A dado momento, referindo-se a alguém em particular, dizem-me: está a proteger o colega de equipa; toda a vida foi isto, a proteger os outros... O pensamento gera uma ideia interessante: a de que a posição de um jogador numa equipa desportiva é determinada pelo seu carácter, não pelas suas características físicas ou técnicas. 

Num conjunto alargado de desportos que conheço, o rugby tem uma característica muito particular: há uma variedade muito grande de compleições na equipa; é normal uma diferença de 20 kg de peso e 20 cm de altura entre jogadores de topo numa mesma equipa. Isto não acontece no futebol, no andebol, no voleibol ou noutros desportos de equipa. Imaginar que as posições do rugby são influenciadas pelo feitio dos jogadores é afirmar que um avançado é avançado porque é um homem que gosta de embates e que um abertura é um abertura porque gosta de distribuir jogo na sua relação com o próximo. 

Sabemos bem que não é assim, porque um jogador de 90 kg não será avançado, mesmo que tenha um feitio mais atreito ao embate físico. E um jogador de 116 kg nunca será um arrière, mesmo que seja muito bom no jogo de mãos no seu contacto social. Será que este raciocínio poderia ser aplicado ao futebol? Que característica de feitio é que Cristiano Ronaldo tem para ser avançado? E o Peter Schmeichel, qual o traço de carácter que o levava a ser guarda-redes? 

O rugby tem, obviamente, características únicas: como jogo de equipa, como jogo de contacto, como metáfora para a conquista de terreno obedecendo a regras bem definidas. É, como já foi referido acima, um desporto onde a diferença de tamanhos é fundamental. A ideia de que se ocupa uma determinada posição porque se tem um determinado feitio é uma ideia arrojada, que cai pela base por inúmeros motivos. E no entanto, dizem-me, os capitães de equipas / selecções muito relevantes no panorama internacional ocupam o lugar daquele rapaz de quem se diz que passou a vida a proteger os outros, o que não deixa de ser curioso.

Ocupa-se um lugar porque se é assim, ou tornamo-nos assim porque ocupamos um determinado lugar? Talvez nem uma coisa nem outra, mas não deixa de ser curioso.

JdB 

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