Afazeres do meu voluntariado internacional invadiram a minha agenda. Organizado como sou (ou como tento ser) atribuí cores aos meus compromissos - beatério, doutoramento, profissional, voluntariado internacional e nacional, reuniões via zoom (ou plataforma semelhante). Até há um ano a minha agenda era um tutti-frutti de cores. De Outubro para cá foi-se acentuando o azul claro (voluntariado internacional) e o rosa (reuniões via zoom que registo porque requerem sossego e banda larga...). A minha agenda está quase bi-cromática, o que me tem impedido de outras actividades.
Há alguns meses cruzei-me pelo telefone com um rapaz (40 anos, talvez) que tem um filho de 11 com cancro. A situação era complicada mas registou melhorias. Fui conversando com ele via telefone. Um dia, pelo fim de Setembro, telefonou-me: o rapaz tinha feito análises e não havia nada a fazer. Fui beber uma cerveja com ele sem o conhecer fisicamente e sem saber o que se diz a um homem que foi informado que não há nada a fazer pelo filho, que ainda vai à escola com alguma regularidade.
Ontem telefonaram-me da Acreditar. Uma rapariga de 11 anos, também diagnosticada com cancro, tem um futuro por concluir, já que, dizem à mãe, não há nada a fazer. A mãe quer levar a criança para Paris e perguntam-me se tenho conhecimentos lá. Fiz o que devia e podia e disse a quem me ligou: se a mãe da criança quiser falar comigo dê-lhe o meu contacto.
O que se diz a este pai e a esta mãe? O que respondo ou sugiro a um homem que, à minha frente, bebe uma cerveja nervosa e só murmura isto é muito complicado, isto é muito complicado. Abraço-o à despedida e ele agradece, porque sabe que comigo pode falar, enquanto sente que os outros não são parceiros elegíveis. Eu sou, porque me aconteceu o que aconteceu. E ele pede desculpa por me obrigar a reviver coisas.
E de que forma é que um médico diz a um pai / mãe que nada há a fazer pelo seu filho / filha? Que sabe desta "psicologia" uma médica com 25 anos, acabada de formar e a trabalhar na oncologia pediátrica?
Nos últimos dois anos, nem isso, cruzei-me com vários casos de pessoas que eu conhecia (ou de pessoas que conheciam pessoas que eu conhecia) que se confrontavam com crianças com cancro. Foram mais os casos que conheci estes dois anos do que aqueles que conheci em 20. Não sei o que isto significa. Talvez nada - apenas o destino.
Que tudo corra bem para estes Pais, o que quer que isso seja para eles.
JdB
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