Parte desta crónica tem um tom vagamente elitista. Talvez eu tenha sido afectado por um excesso de cansaço aquando do momento que suscita esta primeira parte.
À minha mesa num jantar restrito estão pessoas com formação universitária: vários médicos, uma arquitecta, uma bióloga. São pessoas urbanas, com um certo mundo. A mesa está posta com algum requinte: guardanapos de pano, copos diversos, menu impresso, prato do pão.
Olho à volta e os meus comensais tiram o pão indiscriminadamente, sendo que a maioria dos que come pão o tira do lado que está à sua direita. A uma dada altura alguém reclama - ou apenas levanta uma interrogação - e eu explico (foi o cansaço que me levou à explicação, não a genica educativa): "o prato do pão está sempre à esquerda, porque os copos estão sempre à direita." E acrescento: "o protocolo tem sempre por trás uma razão lógica". As pessoas acham graça e há alguém que diz: "mas se tirarmos todos do mesmo lado - mesmo que seja do lado direito - então está tudo bem." O meu cansaço aumenta: "Não. O lado do prato do pão não é opcional; já o guardanapo fica do lado direito ou do lado esquerdo, consoante uma tradição francesa ou inglesa." Os meus colegas riem-se, e dizem que é por isso que eu sou presidente de uma organização mundial.
Não há aqui elitismo, mas um olhar sociológico. Será que as pessoas, apesar de urbanas, sabem o que é um prato do pão, a etiqueta, o protocolo, as razões por trás das coisas serem feitas assim ou assado? E saberão que estas coisas também são importantes, para não cairmos numa certa cafrealização?
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Quando comecei nestas andanças internacionais cruzava-me com um israelita. Perguntei-lhe um dia: "não comes porco?" E ele respondeu: "claro que como!". Agora tenho um colega sul-africano que é judeu. Percebi isso quando o convidei para um webinar a um sábado e ele recusou, dizendo que a religião dele não permitia. Voltei a perceber quando ele disse que chegaria mais tarde a esta conferência internacional por causa do ano novo judeu.
Sábado, no final de uma sessão, o meu colega quer fazer uma pergunta. Sugerem-lhe que se aproxime do microfone mas alguém diz que ele não pode, por causa da religião. Fui tentar perceber o que tinha o microfone a ver com o ser judeu. A resposta foi simples: é sábado, e os judeus não podem fazer nada que se assemelhe a trabalho; ora, aproximar-se de um microfone e fazer uma pergunta é considerado trabalho. Fazer em voz alta não é. Estamos sempre a aprender qualquer coisa.
JdB
1 comentário:
1o. Sempre houve, há e haverá protocolos: regras criadas por uma sociedade. E que não são perigosas para esta.
2o. Todas as religiões cultivam patetices se forem deixadas aos humanos.
Abraço
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