12 outubro 2022

Vai um gin do Peter’s ?

A NATUREZA GOSTA DO SILÊNCIO 

FALTA-NOS SILÊNCIO

Nestes tempos agitados e perigosos em que vivemos, urge convocar as vozes sábias, porque têm o condão de descobrir razões para acreditar no futuro, desencantando oásis de paz no meio das piores calamidades. O segredo da amiga dos indigentes, para recuperar o sentido profundo da vida, começava na desintoxicação do bruaá agitado e barulhento do dia-a-dia: 

NO SILÊNCIO 

«Não podemos encontrar a Deus no barulho e na agitação. 

Veja-se a natureza: 
as árvores, as flores e a erva dos campos crescem em silêncio;
as estrelas, a Lua e o Sol movem-se em silêncio.

O essencial não é o que nós dizemos, mas o que Deus nos diz e o que Ele diz a outros através de nós.

Ele escuta-nos no silêncio; no silêncio fala às nossas almas. No silêncio é-nos dado o privilégio de escutar a sua voz:
Silêncio dos olhos.
Silêncio dos ouvidos.
Silêncio da boca.
Silêncio do espírito.
No silêncio do coração, Deus falará.

Precisamos do silêncio do coração para ouvirmos a Deus em todo o lado — na porta que se fecha, numa pessoa que reclama a nossa presença, nos pássaros que cantam, nas flores e nos animais. Se estivermos atentos ao silêncio, não teremos dificuldade em orar. Há tanta tagarelice, coisas repetidas, coisas escusadas, naquilo que dizemos e escrevemos. A nossa vida de oração é afetada pelo facto de o nosso coração não estar em silêncio. Vou ter mais cuidado em manter o silêncio no meu coração, para, nesse silêncio, ouvir as suas palavras de conforto e, da plenitude do meu coração, consolar Jesus escondido no infortúnio dos pobres.

Os contemplativos e os ascetas de todos os tempos e de todas as religiões sempre procuraram a Deus no silêncio e na solidão dos desertos, das florestas e das montanhas. Jesus viveu quarenta dias em absoluta solidão, passando longas horas num coração a coração com o Pai, no silêncio da noite.

Ciclicamente, também somos chamados: a retirar-nos para um silêncio mais profundo, num isolamento com Deus; a estar a sós com Ele, não com os nossos livros, os nossos pensamentos, as nossas recordações, mas num despojamento perfeito; a permanecer na sua presença – silenciosos, vazios, imóveis, expectantes.»

Santa Teresa de Calcutá (1910-1997), in «Não há maior amor» 

Ressoa claramente nos conselhos da fundadora das Irmãs da Caridade o antigo provérbio português: ‘se as palavras são de prata, o silêncio é de ouro’. Porém, esta máxima conhece uma excepção na música, mais ainda quando é interpretada por uma criança num momento especialmente doloroso, como aconteceu com a serenata deste rapazinho ucraniano, em Março de 2022. Na sua simplicidade, a fé inspirou-lhe especial confiança e mansidão para reagir à selvática agressão das tropas russas contra o seu país, devastado por um rasto de morte, tortura e saque: 

https://twitter.com/i/status/1506070567455125506

Entretanto, a gravação tornou-se viral, ajudada pela tenra idade de um miúdo incrivelmente convicto, pela invulgaridade do símbolo escolhido para falar com Jesus e até pela letra do cântico entoado em ucraniano (aqui na tradução disponível): «I sing, God, for the living and for the dead. / Alleluia, alleluia, alleluia./ And I say ‘God, save us and Ukraine.’ I say to God ‘I love you’.». Antes de se afastar do enorme crucifixo de pedra, a criança faz o sinal da cruz na sequência ortodoxa, da direita para a esquerda e conclui com uma vénia. 

Como era bom sermos contagiados pelo ânimo, pela esperança límpida deste pequeno sábio. A vida no planeta agradecia…

Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)

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