Almoço com amigos - católicos - e falamos de religião: dos santos pelos quais tenho admiração mas não devoção, dos milagres que são os da alma, e não do corpo, de Deus omnipotente, como aprendemos que está - ou não - por trás de tudo aquilo que nos acontece. Falamos também de um certo "politeísmo" (penso que já aqui falei nisto) que é uma devoção pouco credível aos santos. Cada português parece ter o seu santo de eleição, muitas vezes não sabendo porquê, quase nunca sabendo explicar porquê.
Estranhamente, porque deveria ser ao contrário, pessoas como eu têm uma relação mais desafiante com a religião - ou com a vida. Não é pelo facto de questionar mais, mas pelo facto de não acreditar que Deus está por trás de tudo aquilo que nos acontece e isso, nalguns fóruns, não ser bem percebido. Estranhamente, quem acredita que é assim, só o faz quando o que acontece é bom: se alguém se cura de forma inexplicável, a mão de Deus está lá; porém, ninguém vê a mão de Deus na pessoa que é atropelada na flor da vida. Pessoas que acreditam numa mão permanente de Deus na nossa vida questionam(-se) menos e vivem uma religião toda feita de alegrias. Para elas o milagre não é um acontecimento por explicar, mas um sinal da presença divina. A tragédia faz parte daquilo que alguém referiu como os imperscrutáveis caminhos de Deus. Para essas pessoas a mão de Deus é um instrumento de infinito amor, porque o desamor seria um mistério.
Não tenho a pretensão da verdade. Gostava que me mostrassem que estou errado, não porque isso fizesse de mim um melhor católico, mas porque isso permitiria eliminar uma ideia desagradável: a de que a Igreja Católica - ao longo de muitos séculos - não promoveu a instrução dos seus fiéis, mas alimentou (talvez não a tivesse combatido, melhor dizendo) uma ignorância, uma certa superstição ou crendice. Dir-me-ão que foi por questões de poder, de ascendente sobre o povo, de engrandecimento. Talvez...
A religião tem de fazer de nós melhores pessoas. Se uma novena a S. Judas Tadeu faz do devoto um profissional melhor, um pai mais presente ou um marido mais perfeito, então que se repitam as novenas até à consumação dos séculos. Porém, se a novena tem por objectivo a cura de uma maleita - por mais grave ou injusta que seja - então que pensemos se faz sentido. A cura de uma enfermidade está dependente de muitos factores - socioeconómicos, momento do diagnóstico, estado da ciência, força anímica. Não pode estar dependente da oração, porque há perguntas que ficam por responder. Se o enfermo morrer, isso é sinal de que se rezou pouco.
Rezo pelos "meus" doentes. O meu lado mais incoerente reza pela cura; o meu lado mais "racional" reza para que tenham força para suportar o que tiverem de suportar. Rezo sempre - e vou directo ao "patrão".
JdB
1 comentário:
1. eu também costumo ir directo ao Patrão.
2. as curas das doenças dependem de tanto... e, para mim, também de oração.
3. tenho pavor a comportamentos conduzidos pela religião.
Abraço
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