19 abril 2023

Poemas dos dias que correm

Aquela loura de preto 

Aquela loura de preto
Com uma flor branca ao peito,
É o retrato completo
De como alguém é perfeito. 

s.d.

Quadras ao Gosto Popular. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido e prefaciado por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1965. (6ª ed., 1973).  - 72.

***

Lágrima de preta 

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar. 

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado. 

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente. 

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais. 

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume: 

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

António Gedeão


1 comentário:

Anónimo disse...

Não gostando de poesia, Lágrima de Preta é um espanto pois foi feita por um professor de Física e de Química.
abraço

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