Faz hoje 25 anos que fui a Fátima pela primeira vez; fez ontem 24 anos que fui a Fátima pela primeira vez. Esta informação não tem, em si, nada de relevante. Afinal, estive 40 anos sem nunca lá ter estado.
Ontem uma amiga, a viver em França, perguntou-me se não quereria ir um dia a Lourdes. A minha hesitação na resposta revelou o que me vai na alma: apesar de eu ser mariano, a ideia de ir a um local onde se acredita que apareceu Nossa Senhora não me entusiasma por aí além. O meu baptismo de fogo em Fátima, num dia 12 de Maio já longínquo teve um impacto emocional muito grande: era o ano de todos os anos - 2001. Talvez eu estivesse particularmente sensível, sobretudo por levar quem levava. Tudo me sensibilizou: a devoção das pessoas, a procissão das velas, a multidão de crentes, as histórias que sabia ou adivinhava noutras pessoas.
Já aqui o escrevi: o milagre de Fátima não é, para mim, a aparição de Nossa Senhora em cima de uma azinheira, até porque estamos no domínio da fé. Enquanto católico, nada nem ninguém me obriga a acreditar em Fátima; não falamos de um dogma. O milagre de Fátima é o facto de ser ponto de partida ou de chegada para milhares de pessoas todos os anos: pessoas que se convertem, que agradecem, que pedem, que se transformam ou que sentem o impulso da transformação, que encontram um sentido para os desafios que a vida lhes põe. Os milagres em que acredito são os da alma, não os do corpo.
Vencido pela desorganização ou pela inércia, há anos que não vou a Fátima no dia 12 de Maio. Faz-me falta, confesso, aquele banho de multidão anónima, voltada para o andor de Nossa Senhora que, longe ou perto do local onde cada um está, nos entra pelo coração adentro.
JdB
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