São brutais as notícias de violência que chegam até nós. Não só a de guerras e atentados mas também as mais próximas, em famílias (dolorosamente chamada “doméstica”), e escolas, e bairros. Violências a que chamamos estúpidas e irracionais, feitas de lutas de poder e raivas contidas, mas que precisam de ser lidas e interpretadas. Muitas vezes são “gritos” contra uma certa “domesticação” da vida, ou reacções a injustiças crescentes, mas não se podem legitimar por qualquer razão. É comum sentirmo-nos impotentes mas é preciso olhar de frente a realidade, porque o silêncio e a indiferença são tão graves como a própria violência.
Em todos os evangelhos é narrado o gesto corajoso e provocatório de Jesus no Templo de Jerusalém. Expulsando os vendedores de animais para os sacrifícios e derrubando as bancas dos cambistas que trocavam o dinheiro dos peregrinos pela moeda sagrada do Templo, Jesus ataca o coração da religião judaica. Ali estava a presença de Deus na terra. Não em imagens, mas num espaço que simbolizava como os judeus se consideravam “proprietários” de Deus. E não será essa a maior idolatria? Tentar ser “dono”, senão de Deus, pelo menos da sua Palavra e da sua interpretação?! Dono da lista de “sacrifícios” de purificação e oferta que eram necessários para o “encontro” com Deus?! Um Deus que se podia “meter” no bolso, como mais um cartão de crédito salvador?!
A “explosão” de Jesus proclama que Deus não pode nunca ser comprado. Que não há portagem a “pagar” para o encontro com Ele, nem “via verde” para alguns privilegiados. Que “a religião não está primeiro”, como dizia José António Pagola num comentário a este texto: “A actuação de Jesus alerta-nos a todos os seus seguidores e obriga-nos a perguntar-nos pela religião que estamos a cultivar nos nossos templos. Se não está inspirada por Jesus, pode converter-se numa maneira ‘santa’ de fechar-nos ao projecto de Deus que Jesus queria impulsionar neste mundo. Primeiro não é a religião, mas sim o reino de Deus.”
Às vezes são precisos gestos ousados para acordarmos. Não da violência que destrói, mas sim daquela que nos convida a trabalhar por um mundo mais humano, por uma compaixão efectiva. Cada um procurar só o seu bem-estar e os seus interesses é criar condições para maior violência. É acomodar-se ao “templo” da nossa “religiãozinha”, que consola mas não muda nada. Cuidado! Já sabemos o que Jesus pensa disso!
Texto do Pe. Vítor Gonçalves, tirado daqui
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