29 março 2009

5º Domingo da Quaresma

Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de Católico.

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Perder ou ganhar?

De vez em quando, os evangelhos dão-nos algumas frases difíceis de Jesus. Daquelas que, mesmo sem nos perguntar nada, gostaríamos de O aconselhar a ser um bocadinho mais doce, menos dramático. Isto de “quem ama a vida perde-a”, que quer dizer? Então Deus não ama a vida e não gastamos tanto tempo e palavras a dizer como Jesus nos ama? Não “cai” bem uma expressão destas, tão contra-a-corrente das apologias de beleza e gosto de si próprio, dos encantos narcísicos e exaltação do corpo (“se o teu corpo diz que não aguenta mais mostra-lhe como está errado”, é o anúncio de uma bebida energética). Andamos tão desgostados com a vida e até Jesus nos diz para não nos amarmos? É cá um murro no estômago!

Também saí sem palavras do último filme de Clint Eastwood, intitulado “Gran Torino”. Cada vez mais me espanta como o tema da redenção, da descoberta de sentido para a vida num gesto de entrega, emerge na obra deste grande realizador. Não é um filme de pipocas, nem para distrair um bocado. A beleza rude do personagem principal articula-se com os afectos de uma família improvável, e onde a morte ia vencer, surpreende-nos a vida. Sobre a morte e sobre a vida andamos sempre a aprender; por isso, muito cuidado com as “frases feitas”.

“Amar a sua vida” seria ficar fechado como uma semente que se recusasse a romper a casca? Ou fazer de si, das suas coisas e preocupações, o centro do mundo? Confesso que é grande a tentação de exaltar imediatamente o serviço e a dádiva e apontar o dedo a todas as manifestações de egoísmo. Como é feito pelos melhores comentadores. Mas olho e olho-me neste mundo de tantas pessoas mal amadas, com um desejo de felicidade tão alto, pouco reconhecidas por si e pelos outros no dom único de cada uma, que me apetece dizer, nem que seja baixinho e até pareça heresia: “amemo-nos um bocadinho mais, apreciemos o que é simples e belo em cada um, aprendamos a gostar das diferenças e a levantar os olhos do chão. Esta vida não é um ensaio geral, nem um castigo por erros do passado, nem uma prova a superar a todo o custo. É difícil e também injusta, mas está cheia de surpresas e se não a amamos bem, ficamos mais pobres.” Não queria aproveitar-me das palavras de Jesus. Sei que me falam da Páscoa mas continuam a incomodar-me. Não entendo bem o que é perder ou ganhar. Com Jesus é tudo ao contrário! É grande a tentação de ser o seu melhor ou único interprete! Mas só interpreta bem quem ama, quem perde para que outro ganhe, quem diminui para que outro cresça, não é verdade?

Texto do Pe. Vítor Gonçalves tirado daqui.

1 comentário:

maf disse...

"É grande a tentação de ser o seu melhor ou único interprete!" Céus ... esta frase bateu-me com toda a força! E não é que o fazemos, mesmo sem nos aperceber? Quantas vezes, numa encruzilhada, quando temos de tomar uma decisão dificil e nos perguntamos, Que teria feito Jesus nesta situação? e tentamos escutar de mansinho o que nos diz o coração, estamos ou não a ser intérpretes ? estamos ou não a interpretar os evangelhos, segundo a nossa verdade e as nossas capacidades ? estamos ou não a agir segundo a nossa própria vontade ? Cá para mim, essa é a liberdade que Ele nos dá.

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