Não percebo o que se passa, Catarina. Ainda ontem, nós os dois, sozinhos no teu par de assoalhadas com vista para o metro de Odivelas, nós os dois no teu sofá verde e velho com buracos nas braçadeiras e cheiro a rebuçado, nós os dois num carrossel de risos e tremores, de cócegas e amores, nós os dois tão felizes e sem tempo contado. Não percebo o que se passa, Catarina. Ainda ontem, nós os dois, e tu tão feliz comigo, a contares a tua tarde enquanto empurravas um macarrão riscado pelo prato, e eu tão feliz contigo, a soprar-te bolas de sabão enquanto lavava os copos. Não percebo o que se passa Catarina. Ainda ontem, nós os dois, a fazer planos para o fim do mês, eu que queira ir para a praia e tu que querias ir ao Gerês, e agora nem me falas, e parece que não me vês. Não percebo o que se passa, Catarina. Ainda ontem era dia cinco, como é que no teu calendário já é vinte e três? Porque é que estás assim de preto, Catarina, que ficas tão linda de flores, ou às bolinhas? Porque é que não me abriste a porta quando chamei e como é que entrei? Não percebo o que se passa, Catarina!
Zdt
1 comentário:
Muito bonito. E muito triste. pcp
Enviar um comentário