Tomei conhecimento do Quarteto em Cy quando estive no Brasil no ano do verão quente. Tinha comprado uma cassette (sim, sim, o tempo era dessas modernices) com músicas do Ary Barroso e elas interpretavam No rancho fundo (parece-me) com uma limpidez de voz que me encantou. Infelizmente não encontrei esse vídeo na Internet.
Eu tinha 17 anos e começava a viajar sozinho, embora tivesse guarida amiga no destino. Atravessar o atlântico num Boeing 747 (TAP) - e em primeira classe - é uma experiência que devia estar vedada a jovens imberbes como eu. Não apreciei metade do que me foi dado experimentar: aviões bastante vazios, uma farpela melhor que se punha para voar, um atendimento de cinco estrelas, vinhos das melhores proveniências (escolhi cerveja para o jantar e estou convencido que a hospedeira se revolveu de nojo contido), queijos que nos eram disponibilizados em tabuleiros, como se estivéssemos num restaurante. Em turística tudo era bastante pior mas, mesmo assim, havia guardanapos de pano, ementas de papel para se escolher entre carne e peixe, um nível de serviço dificilmente comparável noutras companhias aéreas. Luxos que, tal como os 13º e 14º meses para a função pública, não voltarão mais, porque viajar é um desporto de massas, e esse conceito é incompatível, a um certo nível, com pormenores de sofisticação.
Não vale a pena descrever a beleza do Rio de Janeiro. Todos conhecemos, quer de lá ter estado, quer de fotografias. Mas nessa altura a cidade era bem menos perigosa do que será agora. Na praia as roupas ficavam na areia enquanto tomávamos banho, porque lá estariam quando regressássemos; bebíamos chá mate fresquinho, estendidos ao sol do Leblon; comíamos sandes de ovo na lanchonette Bob's ao fim da tarde; à noite saíamos e regressávamos de autocarro, sem problemas de maior. Dessas minhas duas idas guardo gratas recordações. Voltei lá com a família, quase 30 anos depois, para reforçar o sentimento: em termos de beleza natural, dificilmente se bate a Cidade Maravilhosa.
Deixo-vos com o Quarteto em Cy. Quem está em climas mais outono/invernosos poderá sentir uma ligeira e alegre primavera interior. Quem está em terras de clima mais ameno (e há quem esteja, com certeza) sorrirá de comodismo egoísta, porque há o mar, as amplitudes térmicas reduzidas, o calorzinho que convida à manga curta...
Façam o favor de ser felizes.
JdB
Eu tinha 17 anos e começava a viajar sozinho, embora tivesse guarida amiga no destino. Atravessar o atlântico num Boeing 747 (TAP) - e em primeira classe - é uma experiência que devia estar vedada a jovens imberbes como eu. Não apreciei metade do que me foi dado experimentar: aviões bastante vazios, uma farpela melhor que se punha para voar, um atendimento de cinco estrelas, vinhos das melhores proveniências (escolhi cerveja para o jantar e estou convencido que a hospedeira se revolveu de nojo contido), queijos que nos eram disponibilizados em tabuleiros, como se estivéssemos num restaurante. Em turística tudo era bastante pior mas, mesmo assim, havia guardanapos de pano, ementas de papel para se escolher entre carne e peixe, um nível de serviço dificilmente comparável noutras companhias aéreas. Luxos que, tal como os 13º e 14º meses para a função pública, não voltarão mais, porque viajar é um desporto de massas, e esse conceito é incompatível, a um certo nível, com pormenores de sofisticação.
Não vale a pena descrever a beleza do Rio de Janeiro. Todos conhecemos, quer de lá ter estado, quer de fotografias. Mas nessa altura a cidade era bem menos perigosa do que será agora. Na praia as roupas ficavam na areia enquanto tomávamos banho, porque lá estariam quando regressássemos; bebíamos chá mate fresquinho, estendidos ao sol do Leblon; comíamos sandes de ovo na lanchonette Bob's ao fim da tarde; à noite saíamos e regressávamos de autocarro, sem problemas de maior. Dessas minhas duas idas guardo gratas recordações. Voltei lá com a família, quase 30 anos depois, para reforçar o sentimento: em termos de beleza natural, dificilmente se bate a Cidade Maravilhosa.
Deixo-vos com o Quarteto em Cy. Quem está em climas mais outono/invernosos poderá sentir uma ligeira e alegre primavera interior. Quem está em terras de clima mais ameno (e há quem esteja, com certeza) sorrirá de comodismo egoísta, porque há o mar, as amplitudes térmicas reduzidas, o calorzinho que convida à manga curta...
Façam o favor de ser felizes.
JdB
2 comentários:
Esta semana está de parabéns. Música brasileira! Sou fã e oiço ás paletes.
O texto irreprensivelmente gráfico e a escolha perfeita.
Daqui do sol e do calor ameno, uma boa semana JdB
O texto .... fantástico como sempre!
A musica .... que me perdoe JdB, mas mais parece música de reclame ao OMO !
A (sua) memória .... prodigiosa!
O video ..... mmmmmm porque será que nenhum dos cantores esboçou, sequer, um sorriso ?
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