Há um mês, comentava eu que não conseguia imaginar o que seria ter fome, já que
estou tão habituada a ter a comida em cima da mesa, sem grande esforço.
Privilegiada !
Hoje, dou
comigo a pensar o que seria não ter língua para falar, ouvidos para ouvir,
olhos para ver. Dizem que os surdos-mudos são pessoas extremamente felizes e
tranquilas. Acredito, plenamente, que o sejam. O facto de não estarem, diariamente, expostos
aos ruídos da civilização moderna, proporciona-lhes um silêncio interior, só
comparável – penso eu – ao dos monges tibetanos.
É certo,
também, que nunca conhecerão uma sinfonia de Beethoven, o chilrear de um
passarinho ou o riso de uma criança, embora, ao que parece, eles consigam sentir a vibração das notas musicais.
Considero o
silêncio um bem escasso, difícil de encontrar nos dias de hoje e mais difícil,
ainda, de manter. Mesmo quando a nossa boca está calada, a nossa mente não pára
de falar, os nossos ouvidos não param de escutar. Tento ir, uma vez por semana,
a um local tranquilo, ali para os lados do Palácio da Ajuda, onde nos ensinam a
meditação “Raja Yoga”. Apesar do nome, a meditação “Raja Yoga” nada tem a ver
com Yoga ou com práticas de defesa pessoal. Tem a ver com o silêncio interior,
com práticas de espiritualidade, com paz e harmonia, com a arte dos bons
relacionamentos, com a natureza e o que ela nos pode dar. Ensinam-nos a travar o ruído exterior e a
concentrar-nos no silêncio interior. Às
vezes, quando lá estou, lembro-me dos surdos-mudos e penso como, para eles,
será tão fácil entender este conceito do silêncio interior.
No Evangelho
de hoje, Jesus opera um milagre no surdo-mudo e fá-lo ouvir e falar. No mundo de hoje, precisávamos de um milagre
diferente; precisávamos que o milagre se operasse no nosso coração, por forma a
deixarmos de ser surdos-mudos para a realidade que nos rodeia, para as
injustiças, para a violência, para a miséria, para a prepotência e arrogância.
Domingo, Se Fores à Missa ………. Procura o Silêncio
Interior !
Maf
EVANGELHO Mc 7, 31-37
«Faz que os surdos oiçam e que os mudos falem»
Naquele tempo, Jesus deixou de novo a região de Tiro e, passando por Sidónia,
veio para o mar da Galileia, atravessando o território da Decápole.
Trouxeram-Lhe então um surdo que mal podia falar e suplicaram-Lhe que impusesse
as mãos sobre ele. Jesus, afastando-Se com ele da multidão, meteu-lhe os dedos
nos ouvidos e com saliva tocou-lhe a língua. Depois, erguendo os olhos ao Céu,
suspirou e disse-lhe: «Efatá», que quer dizer «Abre-te». Imediatamente se
abriram os ouvidos do homem, soltou-se-lhe a prisão da língua e começou a falar
correctamente. Jesus recomendou que não contassem nada a ninguém. Mas, quanto
mais lho recomendava, tanto mais intensamente eles o apregoavam. Cheios de assombro,
diziam: «Tudo o que faz é admirável: faz que os surdos oiçam e que os mudos
falem».
Palavra da salvação.
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