07 novembro 2012

Diário de uma astróloga – [38] –7 de Novembro de 2012

“Quando não quero que falem comigo digo que sou escorpião”

O sol entrou em Escorpião a 23 de Outubro e aí permanecerá até 22 de Novembro. É um dos meus signos favoritos, e estou contra corrente nesta escolha, porque a maior parte das pessoas tem uma reacção de retraimento, de desconfiança, de cautela, ao ouvir falar dos nativos de Escorpião.

A palavra evoca imagens do animal propriamente dito, feio, negro, escondido debaixo das pedras, movimentando-se sub-repticiamente e cuja mordidela é perigosa ou mortal. Essas imagens constroem o estereótipo do signo de Escorpião, e são tão fortes que mesmo os astrólogos, que deviam saber a diferença entre arquétipo e estereótipo, reagem dessa maneira. Digo isto porque já testei. Nas conferências astrológicas é costume escrever no “badge”, além do nome, os signos do Sol e da Lua. Eu tenho uma dupla dose de Gémeos, o mais comunicativo do Zodíaco, e astrólogos desconhecidos dirigem-se naturalmente a mim para trocar impressões. Um dia experimentei mudar de signo para o Escorpião. Ninguém sorriu, ninguém me dirigiu a palavra. Assim, quando quero que me deixem em paz, afirmo-me como Escorpião.

Mas essa imagem do animal predatório faz parte do arquétipo ou não? Quando falo de arquétipo refiro-me não só às pessoas que têm o Sol e/ou vários planetas em Escorpião, como às que têm o planeta regente Plutão em posição de destaque ou uma casa 8 repleta.

No campo da literatura, a resposta é sim. Mary Shelley, criadora de Frankenstein, tem Plutão em destaque no meio do céu, Bram Stoker escreveu “Drácula”, tendo o Sol e Lua em Escorpião, e Anne Rice, autora das “Vampire Chronicles” tem Vénus e Mercúrio nesse signo.

O significado astrológico de Escorpião não se limita à noção de monstro. TRANSFORMACAO é a palavra-chave, isto é, em termos metafóricos, o ciclo da morte e ressurreição. Psicologicamente só acontece quando confrontamos e integramos o nosso monstro pessoal, o que sucede normalmente em tempos de crise.  Para muitos que já passaram por épocas assim sabem que é como descer aos infernos. Plutão na mitologia grega era Hades, senhor das trevas e do mundo subterrâneo, dono de tudo o que está escondido.

Depois da transformação, tal como a fénix que renasce das cinzas, tornamo-nos mais íntegros, mais autênticos, e ganhamos força. Podemos voar mais alto não estando presos por inibições, complexos, medos; deitámos fora o que já não serve. O poder da regeneração permite-nos ter outra visão do mundo e de nos próprios. Por isso, antigamente, a constelação de escorpião era representada por uma águia, animal com uma visão aguda e mais alargada.

O símbolo da águia aparece noutros contextos. Na carta “Le Monde” do Tarot estão representados os quatros signos fixos do zodíaco: Touro, Leão, Aquário e Escorpião como águia. Na catedral de Orvieto em Itália estes quatro símbolos estão presentes na fachada frontal.

Escorpião é um signo fixo e, como tal, pretende impor a sua vontade aos outros o que lhe dá uma reputação de manipulador e controlador. Por outro lado têm uma persistência e lealdade a toda a prova e estão no seu melhor quando conseguem transformar a vida dos outros.

Escorpião é um signo de água e, portanto, ligado ao mundo das emoções. É muito mais intenso do que os outros signos de água Caranguejo e Peixes. As emoções mais intensas da nossa vida estão ligadas a processos de morte e renascimento, de crise e de paixão, e todas estas situações caiem dentro do arquétipo escorpionico. Incluo também o erotismo e sexo; de uma forma positiva temos o sexo orgásmico, a fantástica união entre duas pessoas que se amam intensamente (não é por acaso que se diz “fazer amor”) mas, numa expressão negativa, temos a pornografia e as perversões.

O cinema adora este arquétipo, sobretudo no género “Atracção Fatal”, mas o personagem escorpionico mais famoso não tem nada a ver com sexo. Darth Vader, do Star Wars, inicia a sua vida como Jedi, mas entregou-se ao mundo das trevas por não ter sido capaz de integrar desgostos e perdas. Tornou-se péssimo mas, no fim da vida, dá-se uma transformação, ao sacrificar-se pelo seu filho Luke Skywalker. Antes de morrer renasce como Anakin, o Jedi bom, e retira a sua mascara.

Mas a melhor forma de intuir as características de Escorpião é através da música. Aqui ficam três sugestões:

O final dramático da ópera “Tristão e Isolda” de Wagner  “Liebestod”  (AmorMorte). 



O ballet Romeu e Julieta, de Prokofiev, que retrata os Montagues e os Capuletos num confronto implacavelmente negro antevendo o drama que todos conhecemos.



“El amor brujo”, de Manuel de Falla, onde sedução, perigo, mistério se confundem.




Luiza Azancot

3 comentários:

ACC disse...

Bom dia LA
Belíssima explicação. Tenho alguns na família directa e, engraçado por razões que só tu entenderás, fiquei mais sossegada.
Quem é o próximo?

Anónimo disse...

Mas que texto mais interessante e completo. Espectacularmente bem escrito e dissecado. pcp

Maf disse...

hihiihhii intimamente vaidosa por ser do signo Escorpião, mesmo quando outros me dizem com olhar horrorizado: "que horror!!! és escorpiona !"
Obrigada Luisa, por esta excelente explicação do meu "inner self".
Maf

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