19 novembro 2012

Vai um gin do Peter’s?

Aproveitando as boas oportunidades que o acesso à net proporciona a um número galopante de cidadãos no mundo, seguem duas sugestões de links a explorar. Parecem presentes de Natal antecipados, que vale a pena partilhar:

RIJSKS com o melhor site dos museus!

Antes de fechar para obras, o museu de pintura de Amsterdão teve o cuidado de deixar disponível um site fabuloso, onde se podem visualizar as obras-primas do seu valioso património e, melhor ainda, descarregá-las, dar-lhes novas configurações para as adaptar ao desktop, ipad ou a outros suportes tecnológicos do nosso dia-a-dia: https://www.rijksmuseum.nl/en. Com um título apetitoso – «Mergulhe na colecção» (Dive into the collection), abrem-se várias opções: da visita virtual à possibilidade de personalizar e recriar as telas clássicas do Museu (Create your own Masterpiece), ou de explorar a biblioteca.

Segue um artigo delicioso do Miguel Esteves Cardoso (MEC) a anunciar este feito do Rijksmuseum com o humor que lhe conhecemos. Para facilitar, antecipa-se a tela de Rembrandt referida pelo MEC:  

«Auto-Retrato como Apóstolo Paulo», Rembrandt, 1661.

Mas muitos outros quadros nos aguardam neste espaço interactivo do Rijks, onde se esbarra logo com mais Rembrandts (embora a maioria esteja no Ermitage) e Vermeers:

A célebre «Ronda da Noite», Rembrandt, 1642.

LEGENDA DO SITE DO RIJSK: Rembrandt’s largest, most famous canvas was made for the Arquebusiers guild hall. This was one of several halls of Amsterdam’s civic guard, the city’s militia and police.  Rembrandt was the first to paint figures in a group portrait actually doing something. The captain, dressed in black, is telling his lieutenant to start the company marching. The guardsmen are getting into formation. Rembrandt used the light to focus on particular details, like the captain’s gesturing hand and the young girl in the foreground. She was the company mascot.

«A leiteira», Johannes VERMEER, 1660.

LEGENDA DO SITE DO RIJSK: A maid concentrates keenly as she pours milk from a jug. It is a quiet, tranquil scene. The only movement is the flow of milk. Vermeer turned a simple composition of a prosaic subject into an intense work of art. It is in the rendering of light that Vermeer truly excelled, painting tiny dots for highlights, as on the bread and the blue cloth.

«Rebeca e Isaac» ou “Casal judeu», Rembrandt, 1665.


LEGENDA DO SITE DO RIJSK : It seems that Rembrandt painted his subjects as the biblical couple, Isaac and Rebecca. Its popular name, the Jewish Bride, is a later invention.
The portrait is painted with an extraordinarily free hand, as in the sleeve, where the paint is especially thick and shaped to reflect the light.




Miguel Esteves Cardoso

In PúblicoSegunda-feira, 5 de Novembro de 2012

Os olhos em festa




O Rijksmuseum só reabre no dia 13 de Abril. Apetecerá ir a Amsterdão só para ver como ficou e refrescar a vista com os Rembrandts. Mas, enquanto não houver outra maneira de vê-las, o Rijksmuseum acaba de estrear o site mais espectacular dos últimos anos ( https://www.rijksmuseum.nl/en)
Tem todas as obras de arte em alta definição - são cerca de 125 mil - e o motor de busca é exímio. Deixa-nos fazer downloads das pinturas que quisermos.
Encoraja-nos a copiar fragmentos de pinturas para fazer colagens, papel de parede, capas de iPad, tatuagens e outras tolices. Uma delas é adivinhar-nos o gosto, através de cinco escolhas simples (você é mais anjo, dançarino ou eremita?). Depois de respondermos, apresenta-nos uma selecção de obras. Eu fui premiado com muitos bustos do Platão e pinturas de eremitas barbudos.
Gastou-se muito tempo e dinheiro a tornar o museu simpático. Hoje em dia toda a publicidade parece dirigida a adolescentes ignorantes, sem vontade nenhuma de apreciar as artes. Daí empregar-se o estilo "anda daí, meu - deixa o video-jogo e vem curtir uns Vermeers". Dá-se o desconto. Por que não? Contornam-se bem esses desafios a exercer a nossa criatividade retalhando obras-primas com os nossos ratos para chegar às maravilhas desta verdadeiramente magnífica colecção.
O Auto-Retrato como Apóstolo Paulo de Rembrandt já tinha 161 coraçõezinhos quando lá fui mas felizmente, quando se faz o download, desaparecem, juntamente com o desenho da tesourinha vandalinha.

CURTA-METRAGEM memorável e portuguesa!

Na década do revivalismo do mudo, depois do sucesso do filme francês «O ARTISTA» e do português «TABU», é incontornável a curta-metragem de Nuno Rocha, merecidamente premiada, a contar a estória de um sem-abrigo, em flash-back – «MOMENTOS»(1).
A força da imagem dispensa palavras. Comovente o confronto com uma vida que já foi o oposto, pelo menos a nível afectivo, e que talvez ainda tenha possibilidade de ser resgatada… Fica-nos essa vontade, apesar de tudo poder ficar-se apenas pela alucinação onírica em que o protagonista se deixa embalar, arrebatado pelo movimento de pessoas e paisagens sedutoras que disparam, de repente, no grande ecrã de televisão, colado à vitrina da loja onde se abrigara naquela noite.  
Rodado em 2010, o filme pesa também pela crescente actualidade. Sabíamos quanto o risco de empobrecimento rápido era real nos EUA. Mas nem tanto na Europa, até há um par de anos. Ainda assim, o foco de MOMENTOS centra-se no essencial: o que aquele homem é e, afinal, sempre será, independentemente e muito para lá da sua actual circunstância de abandono e marginalidade: 



Se o cenário de reviravolta feliz não passar de uma fantasia que se esfuma em instantes, já é alguma coisa que, ao menos, se possam multiplicar momentos desses num dia-a-dia tão solitário e sofrido. De facto, também o sonho tem o seu papel na vida, enquanto força luminosa ou porto de abrigo – ainda que breve – numa viagem longa e desgastante para muitos, como este sem-abrigo de rosto ossudo, onde ressaltam uns olhos de criança desamparada. Talvez por isso, o sonho seja dos temas recorrentes na poesia portuguesa, tela limpa e inspiradora dos artistas, como acreditam alguns dos nossos poetas:

«Pelo sonho é que vamos
Comovidos e mudos  (…)
Chegamos?  Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.
                                                                                (Sebastião da Gama, 1953)

«Eles não sabem que o sonho
É uma constante da vida
Tão concreta e definida
Como outra coisa qualquer, (…)
É vinho, é espuma, é fermento,
Que fossa através de tudo,
Num perpétuo movimento. (…)

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre a mãos de uma criança.» 
 («Pedra Filosofal»,  António Gedeão, 1956)

Interpretação de «Pedra Filosofal» por Carlos do Carmo: 



Maria Zarco
(a  preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
_____________
(1)   Ficha Técnica:

Título original:
MOMENTOS
Realização:
Nuno Rocha
Argumento:
Nuno Rocha e Victor Santos
Produçao:
Filmesdamente
Director de Fotografia:
Pedro Negrão
Som:  
Duarte Ferreira
Banda sonora:
Tokyo Girl
Efeitos Especiais:
Jorge Carvalho
Duração:
7,21 min.
Ano:      
2010
País:
Portugal
        Elenco:

Rui Pena                (sem-abrigo)
Valdemar Santos (2º sem-abrigo)
Ricardo Azevedo  (3º sem-abrigo)
Ana Ferreira         (mulher)
Débora Mineiro   (filha)
Site oficial:

http://nunorocha.net/


Premiado internacionalmente.
Grécia:  Audience Award - Naoussa International Film Festival, 
Cinematic Achievement Award - Thess International Short Film Festival,
França:   Audience Award - Honfleur Film Festival,
Portugal: Best Short and Audience Award - Arouca Film Festival.

2 comentários:

Anónimo disse...

Bela agenda cultural logo para o início da semana... obrigada, MZ. Bjs. pcp

Anónimo disse...

De facto, há tantas opções giras que até ficamos atordoados... Bem giro isto de o mundo estar mais interligado através da net. Bjs, MZ

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