Fotografia de JMAC, o homem de Azeitão |
Ao meu lado há quem não leia romances, com honrosíssimas excepções, preferindo um tipo de livros mais filosóficos, ou mesmo técnicos. Um pouco mais abaixo na direcção do mar, um amigo próximo lê muitos romances, talvez quase tudo o que saia, ainda que privilegiando bons e premiados escritores. Antes de mim havia quem só lesse praticamente romances, sobretudo franceses, e quem não lesse quase romances nenhuns. Mais longe, geograficamente, amizade forte ainda que recente atira-se muito à poesia sobre a qual discorre com saber e sensibilidade. Há aqueles que pouco lêem, outros que devoram escrita considerada mais light. Olho para dentro de mim próprio e sei o que me atrai - e quando - nas prateleiras de livrarias.
Se excluirmos deste raciocínio o que lemos por motivos profissionais ou académicos de momento, o que dizem de nós as opções literárias que fazemos? O que significa não gostar nada de romances ou gostar muito de poesia, querer ler filosofia ou adquirir com menos crivo? A problemática pode resumir-se a uma questão de gosto pessoal, a influências da educação ou do meio em que crescemos, ou conseguiremos descortinar outras motivações mais fundas? A pergunta, confesso, não é retórica. Não sei a resposta, embora ache que sim, que, olhando para o renque de livros que decora as estantes de cada mortal, e cavando com jeito e perspicácia na alma de cada um de nós, poderemos encontrar qualquer coisa.
A analogia talvez só faça sentido para mim, mas o estabelecimento é meu, pelo que me reservo o direito de gerir a ementa de almoço como me aprouver. Ontem, na homilia da missa a que costumo ir, ouvi falar de palavras, da necessidade que a sociedade tem hoje em dia de factos, de coisas comprováveis e imediatas. Como se liga isso com a escuta da palavra de Deus, que parece ser algo com uma dimensão onírica, utópica, ilusória? Como interage ela na nossa vida e no nosso quotidiano? Como deixamos que ela ressoe dentro de nós, como a acolhemos para que ela nos mude por dentro? Talvez, diz a minha ingenuidade ignorante de quem gosta de embrulhar artigos aparentemente diversos no mesmo papel de fantasia, tudo se resuma às perguntas cujas respostas não sei: porque lemos o que lemos? Somos o que lemos ou lemos o que somos? Lemos para nos entretermos ou lemos para nos mudarmos? Lemos para estar ou lemos para agir (e daí a memória das palavras do sermão)?
Há ainda uma pergunta final e, quiçá, demolidora. Para que serve sabermos as respostas a todas essas perguntas? Eu sei porquê, mas isso sou eu....
JdB
3 comentários:
Ha perguntas com tantas respostas que poderíamos passar ao lado da vida encantados com a procura!
Romances são historias de vidas e nada acrescentam de novo, passamos os olhos pelas faces da lua dos outros e apenas retemos o lado mais brilhante. Foi assim que Walt Disney convenceu as meninas de que haveria sempre um príncipe encantado que lhes salvaria a vida.
Eu também sei porquê!
Beijinhos divertidos.
Para que serve perguntar as perguntas...?
Enviar um comentário