08 julho 2014

Duas Últimas

É a Clarice Falcão, que não conheço, mas podia ter sido um pasodoble. No fundo no fundo, deliciava-me a ver uma corrida da feira de Pamplona quando me apercebi que anda não tinha postado nada para hoje. 

Ah e tal e coisa, que maçada, o que posto amanhã?, pergunto eu, com os olhos fitos no televisor onde o matador, cujo nome não conheço nem fixo (ando muito arredado destas coisas) descalço e com a montera boca abajo, para dar sorte, crava uma estocada limpa, até ao punho. O touro teima em morrer, como teimam em morrer outros da mesma corrida que sofreram estocadas até ao punho. E eu, que não mato um gato - um animal que detesto - não me custa ver um toiro a morrer na arena, mesmo que cambaleante e a golfar sangue. Enfim, o meu lado bárbaro, porque somos muitos dentro de nós.

Olhem, tanta coisa para ser a Clarice Falcão, sugerida pelos meus filhos, cada um com a sua música. Se gostarem, voltem amanhã. Se não gostarem, voltem na mesma, que haverá nova corrida, nova viagem.

Desculpem qualquer coisinha.

JdB



9 comentários:

Anónimo disse...

Bárbaro, porquê ? o homem e a besta é uma luta ancestral, que a corrida assume para que não neguemos ou disfarçemos o barro de que somos feitos.

Anónimo disse...

A luta ancestral, deveria ser entre a bela e o monstro de que todos somos feitos.
Uma luta interna, interior, de limpeza das lamas e lodos, que nos cobrem.
Não projectada num animal indefeso e acossado, para gaúdio alheio.
Vida é vida.

A barbárie não se justifica pelo nosso desejo de distração de quem somos.
Ou então, qualquer acto de criminalidade estaria salvo e seria bem vindo.

Aceita-se, mas não se aclama. Aceita-se, mas não se incentiva.
Aceita-se, e espera-se que o barro aprenda (e relembre)a ser mais do que isso: um monte de terra bruta e imunda e se molde algum dia numa jarra, numa malga, num copo...

Apesar de não aderir ao seu deleite tauromáquico, voltarei aqui noutro dia, para outra corrida bem melhor.

a.








Anónimo disse...

Bom dia
A verdade sobre a natureza humana aflige e até magoa, daí a legitima fantasia de que os toiros são coisa de bárbaros.Respeito e compreendo essa fuga.O ganho civilizacional está em que figurando realidades opostas conseguimos ambos trocar ideias e não agressividades, é o bastante para ficarmos felizes.
ATM

JdB disse...

A minha contribuição para este debate, cuja modéstia é determinada pelo dono do estabelecimento, agora arvorado em comentador.
A corrida é bárbara e revela - naqueles que a apreciam - a barbárie que existe em todos nós. Assistirei às que puder sem remorso nem vergonha, mas em momento algum as defenderei como um modelo do que quer que seja, a não ser de valentia e de estética.
Independentemente do seu grau de sofrimento ser menor do que possamos pensar, er um toiro a morrer numa arena, muitas vezes vítima de uma estocada mal dada, que bate repetidamente no osso, a golfar sangue e a refugiar-se sem forças nas tábuas, não é um espectáculo bonito e facilmente defensável. Tal como disse, vejo e aprecio, porque lá está, a coisa de bárbaro... E há tudo o resto, que me vai encantando.
Por fim, estou como o ATM. a felicidade está na troca de opiniões sem agressividades.
Sou de a. e do ATM atento, venerador e obrigado.

Anónimo disse...

dixit

Anónimo disse...

As corridas representam o homem na luta pela superioridade e o mais selvagem que nós temos e que devíamos esconder. Um cavalo drogado, um touro confuso num jogo que sabe que vai perder. São centenas de pessoas a assistirem a um espectáculo de sangue, primitivo em que o homem revela o mais selvagem que tem. Não mata para comer, mata para o deleite de uma plateia que vê satisfeita uma luta desigual.
Ainda estou para perceber os toureiros que se benzem. É para pedirem protecção ou perdão?

Anónimo disse...

Quando um toureiro reza, não perguntes por quem, ele reza por ti também.
Manolete
Paquirri
Quim Zé.

ATM

Anónimo disse...

"Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos são parte do continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa ficará diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti"

Anónimo disse...

"Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos são parte do continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa ficará diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti" John Donne
Poema que veio inspirar o famoso livro do Hemingway, grande aficionado.

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