Continuando
o gin de 23 de Junho, a completar o mini-guia sobre locais menos conhecidos de
Lisboa, seguem mais nove dicas e um
alerta sobre a possibilidade de visita ao Palácio da Ega (ref. no gin anterior),
por marcação, desde que se reúna um número mínimo de participantes.
PALÁCIO DAS
NECESSIDADES, actual Ministério
dos Negócios Estrangeiros, em Alcântara (não permite visitas)
Mandado erguer por D.João V, foi a única residência
real que sobreviveu ao grande terramoto de 1755. Abrange também as antigas
instalações do Convento de Nossa Senhora das Necessidades, com capela própria e
inúmeras salas com elementos decorativos em talha dourada e belas esculturas,
que o tornam num conjunto arquitectónico valioso.
Quando terminou a monarquia, passou a ser sede do
MNE, tendo as peças de ourivesaria transitado para o Museu de Arte Antiga e
parte do mobiliário para os palácios da Ajuda e de Queluz (todos eles
visitáveis).
PALÁCIO BURNAY, na rua da Junqueira, a Alcântara (visitável
por marcação)
Mandado
edificar por D. César de Meneses, entre 1701 e 1734, teve várias obras de
remodelação e mudanças de propriedade, chegando a ser a residência de Verão dos
patriarcas de
Lisboa, até ser adquirido pelo Estado, em 1940.
A maioria das peças do sumptuoso
recheio foi vendida em 1936, como o mobiliário, as tapeçarias, as telas e as esculturas.
Mantém, no entanto, as pinturas murais, onde se destacam as da escadaria principal em trompe-l’oeil,
criando um efeito monumental de relevos. Hoje, aloja o Instituto de
Investigação Científica Tropical.
QUINTA DOS
AZULEJOS, nos Paços do Lumiar, hoje Colégio Manuel Bernardes (visitável mediante
marcaçção)
O edifício principal foi edificado, no início do
século XVIII, pela família do ourives Colaço da Cruz/Colaço Torres com uma decoração
notável. O conjunto inclui a casa, a capela e os jardins profusamente ornamentados
de arcos, lagos, bancos e colunata octogonal, revestidos por azulejaria
policromada e de bom esmalte, representando cenas bíblicas, de caçadas e da
mitologia clássica. Proveniente da Real Fábrica de Faianças do Rato, foi
enriquecendo ao longo do tempo, reunindo estilos diferentes, do barroco ao
rococó.
Local de visita da alta sociedade, a Quinta foi
frequentada pela família real, desde o tempo de D.José, chegando a ser
residência temporária da rainha D.Maria I, no final do século XVIII. A partir de
meados do século XIX, mudou consecutivamente de proprietário e de designação
(ex: «Quinta do Espírito Santo»), até ser transformada em colégio privado, a
partir de 1935.
IGREJA DO CONVENTO
DA ENCARNAÇÃO, entre a av. da
Liberdade e o Hospital de S.José (visitável em dias de culto)
Recuamos ao reinado de Filipe II para cumprir uma
disposição da filha de D.Manuel I – a Infanta D.Maria – de erigir um convento
de religiosas sob a invocação de Nossa Senhora da Encarnação. O edifício, em linguagem
barroca, guarda um dos tesouros mais notáveis em talha dourada e em azulejaria.
Conheceu as maiores intervenções nos reinados de
D.João V e de D.José, sobressaindo no seu interior: a colecção de azulejos azul
e brancos de setecentos, característicos do Ciclo dos Grandes Mestres lisboetas;
o retábulo-mor de 1719, trabalhado em prata e atribuído a João Frederico Ludwig;
as pinturas e a talha dourada da capela-mor; as pinturas no convento atribuídas
a Bento Coelho da Silveira e a André Gonçalves e seus discípulos.
IGREJA DE SÃO
MIGUEL, perto da Sé (visitável
quando abre para o culto)
A fachada sóbria,
com duas torres sineiras, não sugere o interior rico em talha dourada e tecto
de madeira pintada, além de painéis ornamentais, de nave única.
Embora date do início da
nacionalidade, foi reedificada entre 1673 e 1720, em estilo maneirista e barroco.
IGREJA DE SANTA CATARINA, ao Chiado
(visitável nos horários de abertura ao culto)
Uma jóia do barroco,
salienta-se pela talha dourada do retábulo da capela-mor da autoria de Santos Pacheco
(1728), pelas 6 telas de André Gonçalves relacionadas com a Eucaristia, pelo
fresco do tecto de António Pimenta Rolim (1689), e ainda pelas imagens de Santa
Catarina, S. Paulo Eremita e de Sto. Antão a ladear o Sacrário.
Ao longo do transepto
encontra-se: a capela lateral do Senhor Jesus da Pobreza com o embutido de
pedra florentino; a capela de Nossa Senhora da Atocha, gótica, oferecida, em
1681, pelo pintor de azulejos Gabriel del Barco; e as pinturas de Vieira
Lusitano, na zona superior. Ao fundo da Igreja, vislumbram-se os estuques
pintados por Giovanni Grossi, além do órgão setecentista.
Fundada
em 1647 como igreja conventual, começou por ser dedicada ao Santíssimo
Sacramento. A partir de 1835, passou a ser designada por Igreja de Santa
Catarina, após a destruição da original, situada no Alto de Santa Catarina.
Palácio dos
Condes da Calheta, no Largo dos Jerónimos (visitável com marcação prévia)
No século XVII, a zona do Palácio reunia as casas e quintas de D. João
Gonçalves Câmara, quarto Conde da Calheta. A casa principal, característica das
construções de seiscentos e setecentos, estende-se por dois andares,
irregulares em altura, com a fachada sul voltada para o jardim, desfrutando de
uma extensa varanda no primeiro andar e cinco grande janelas.
Posteriormente, foi adquirido
pelo Rei D. João V, em conjunto com a Quinta do Meio. No reinado de D. José, funcionaram no Palácio as
secretarias de Estado e o Arquivo Militar, além dos interrogatórios aos
implicados no atentado contra o rei, em 1758.
Ao longo
do século XX foi várias vezes intervencionado, nomeadamente para a Exposição do
Mundo Português (1940). Hoje alberga o Jardim-Museu Agrícola Tropical.
Convento dos Cardaes, na Rua
do Século, ao Príncipe Real (visitável aos Sábados à tarde e por marcação)
Um
edifício pré-pombalino, de seiscentos, tem na igreja uma colecção
extraordinária de azulejos holandeses (de Jan Van Oort), um magnífico altar-mor
em talha dourada, embutidos em mármore, pintura, escultura e inúmeras outras peças
de arte sacra.
O
exterior sóbrio e austero abriga um interior barroco, fundado por D.Luísa de
Távora como convento de carmelitas. Desde o final do século XIX que foi
entregue a uma ordem religiosa vocacionada para a assistência a deficientes
profundos, que ainda hoje funciona.
Igreja
da Madre de Deus, no Museu do Azulejo, em Xabregas (visitável no horário do
Museu)
A
construção do convento inicia-se sob a égide da Rainha D.Leonor (1509), sendo a
Igreja do reinado de D.João III. Enriquecida ao longo dos séculos, em especial
com o ouro do Brasil, por ordem de D.João V, constitui um exemplo notável do
barroco português.
Pinturas,
painéis de azulejos e talha dourada forram este templo pertencente ao convento onde
hoje está alojado o Museu do Azulejo. O
altar em estilo rococó revestido a ouro são verdadeiras jóias do património histórico
da cidade.
Com
estas sugestões completa-se o mini-guia dos lugares menos conhecidos de Lisboa,
que vale a pena explorar.
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2
semanas)
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