02 julho 2014

Diário de uma astróloga – [81] – 2 de Julho de 2014


Duas velhas sábias

Fazendo uma busca no Google com “Wise old man” obtemos  509.000 resultados, e com “Wise old woman” obtemos 81.000. São muitos os homens sábios frequentemente citados no Facebook, porém, na vida real, conheço muito poucos homens velhos e sábios. Em compensação, conheço bastantes mais mulheres velhas e sábias.


O arquétipo do velho sábio, “wise old man” ou “senex”, foi descrito por Carl Jung e encontra a sua correspondência astrológica no signo de Capricórnio e no planeta Saturno. Na ficção e cinema recentes, temos como exemplos claramente masculinos Obi-Wan Kenobi da Guerra das Estrelas, Gandalf do Senhor dos Anéis e Albus Dumbledore da série Harry Potter. Personagens femininos com esta relevância na ficção recente … nada me vem à memória.


A imagem da mulher nova e atraente, implicitamente indicando que ainda possui ciclo reprodutivo ,prevalece no mundo do cinema. É certamente reflexo da sociedade patriarcal em que vivemos, mas não me agrada; por isso, fiquei muito contente quando, durante a minha recente ida ao Alasca, li uma lenda dos índios Atabasca onde as protagonistas e heroínas são duas velhas mulheres que se revelam sábias.

Uma tribo nómada da região do Árctico, durante uma época de escassez, muda de acampamento em busca de subsistência, e resolve abandonar as duas mulheres mais velhas do grupo, condenando-as assim a uma morte certa, uma vez que eram julgadas incapazes de caçar e assegurar a sua subsistência. Essa decisão é tomada pelo chefe e apoiada pela maioria dos homens fortes da tribo. Para quê alimentar mais duas bocas que não contribuem para o bem-estar da comunidade?

Depois de um período de desespero inicial, as duas amigas arranjam forças para capturarem pequenos animais e, recorrendo às suas experiências de vida,  encontram um local perto de um rio onde não só sobrevivem,  mas também acumulam grande quantidade de alimentos. A tribo não teve a mesma sorte e, um ano depois, ainda cheios de fome, voltam ao local do abandono e constatam que as mulheres não morreram. Cheio de remorsos, o chefe manda os seus batedores procurá-las e um deles encontra-as. Apesar de desconfiadas e usando muita prudência, as duas velhas decidem perdoar e ajudar os membros da tribo, alimentando-os com os produtos que tinham armazenado graças, não à sua força e vitalidade, mas sim à experiência e saber acumulados. Diz a lenda que, a partir desse momento, as tribos Atabasca nunca mais abandonaram os seus idosos.

Escolhi escrever hoje sobre esta lenda porque o Sol está em Caranguejo cujo planeta regente é a Lua, o símbolo do feminino e da Mãe. As nossas heroínas, além das qualidades capricornianas feitas de experiência acumulada mostram o lado feminino e maternal ao perdoar e ajudar os que inicialmente as rejeitaram.

O arquétipo “velha mulher sábia” não tem necessidade de recorrer a barbas longas (nem a actores anglo-irlandeses). É mais complexo pois une os dois pólos astrológicos Caranguejo / Capricórnio.



Aviso aos jovens: não façam como a tribo dos índios do Árctico: não abandonem as pessoas com mais idade, mais lentas, com menos conhecimentos tecnológicos e sem beleza mediática, pois a vossa sobrevivência pode depender da sua sabedoria.

Luiza Azancot

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