Duas velhas sábias
Fazendo uma
busca no Google com “Wise old man” obtemos 509.000 resultados, e com “Wise old woman”
obtemos 81.000. São muitos os homens sábios frequentemente citados no Facebook,
porém, na vida real, conheço muito poucos homens velhos e sábios. Em compensação,
conheço bastantes mais mulheres velhas e sábias.
O arquétipo do
velho sábio, “wise old man” ou “senex”, foi descrito por Carl Jung e encontra a
sua correspondência astrológica no signo de Capricórnio e no planeta Saturno. Na
ficção e cinema recentes, temos como exemplos claramente masculinos Obi-Wan
Kenobi da Guerra das Estrelas, Gandalf do Senhor dos Anéis e Albus Dumbledore da
série Harry Potter. Personagens femininos com esta relevância na ficção recente
… nada me vem à memória.
A imagem da
mulher nova e atraente, implicitamente indicando que ainda possui ciclo
reprodutivo ,prevalece no mundo do cinema. É certamente reflexo da sociedade
patriarcal em que vivemos, mas não me agrada; por isso, fiquei muito contente quando, durante a minha recente ida ao Alasca, li uma lenda dos índios Atabasca
onde as protagonistas e heroínas são duas velhas mulheres que se revelam
sábias.
Uma tribo nómada da região do Árctico, durante uma época
de escassez, muda de acampamento em busca de subsistência, e resolve abandonar as
duas mulheres mais velhas do grupo, condenando-as assim a uma morte certa, uma
vez que eram julgadas incapazes de caçar e assegurar a sua subsistência. Essa decisão
é tomada pelo chefe e apoiada pela maioria dos homens fortes da tribo. Para quê
alimentar mais duas bocas que não contribuem para o bem-estar da comunidade?
Depois de um período de desespero inicial, as duas
amigas arranjam forças para capturarem pequenos animais e, recorrendo às suas
experiências de vida, encontram um local
perto de um rio onde não só sobrevivem, mas também acumulam grande quantidade de alimentos.
A tribo não teve a mesma sorte e, um ano depois, ainda cheios de fome, voltam
ao local do abandono e constatam que as mulheres não morreram. Cheio de
remorsos, o chefe manda os seus batedores procurá-las e um deles encontra-as. Apesar
de desconfiadas e usando muita prudência, as duas velhas decidem perdoar e
ajudar os membros da tribo, alimentando-os com os produtos que tinham
armazenado graças, não à sua força e vitalidade, mas sim à experiência e saber acumulados.
Diz a lenda que, a partir desse momento,
as tribos Atabasca nunca mais abandonaram os seus idosos.
Escolhi
escrever hoje sobre esta lenda porque o Sol está em Caranguejo cujo planeta
regente é a Lua, o símbolo do feminino e da Mãe. As nossas heroínas, além das
qualidades capricornianas feitas de experiência acumulada mostram o lado
feminino e maternal ao perdoar e ajudar os que inicialmente as rejeitaram.
O arquétipo
“velha mulher sábia” não tem necessidade de recorrer a barbas longas (nem a
actores anglo-irlandeses). É mais complexo pois une os dois pólos astrológicos
Caranguejo / Capricórnio.
Aviso aos
jovens: não façam como a tribo dos índios do Árctico: não abandonem as pessoas
com mais idade, mais lentas, com menos conhecimentos tecnológicos e sem beleza mediática, pois a vossa sobrevivência pode depender da sua sabedoria.
Luiza Azancot
Sem comentários:
Enviar um comentário