Fotografia de JMAC, o homem de Azeitão |
Dos meus tempos de indústria, onde aprendi quase tudo o que sei de competência profissional, retive um conceito de cultura de segurança e saúde no trabalho. Haveria (e há, estou certo, pelo que sei e conheço) três culturas diferentes (listando da menos para a mais evoluída):
1) cultura de segurança dependente
2) cultura de segurança independente
3) cultura de segurança interdependente
Entre muitas diferenças a que poupo os meus fiéis leitores ressalto apenas uma, a que se refere aos zero acidentes de trabalho em 1, 2 e 3: o zero como visão, o zero como objectivo, o zero como expectativa.
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Há momentos em que o paralelismo entre as coisas me suscita uma voragem criativa. Há dois ou três dias liguei uma frase da Hanna Arendt a outra de Cesare Pavese. Hoje relaciono a cultura de segurança com a conjugalidade. Entre o ridículo, a ousadia, a inutilidade e o lugar-comum mais violento, venha o diabo e escolha.
Conheço pessoas que têm uma enorme necessidade de independência, porque é assim que lhes manda os genes, a educação e o histórico. Conheço gente que não acredita naquela frase em que agradecemos ao outro / outra a melhor pessoa que fizeram de nós. Inversamente, também conheço gente com uma dose de dependência muito grande embora, na generalidade dos casos, esta não seja defendida e arvorada como uma opção. Talvez uma fragilidade, apesar de algumas pessoas não se importarem de depender do mais próximo numa quantidade grande de áreas.
Acredito que tanto a dependência como a independência podem cansar - a nossa nos outros, nos outros em nós. Talvez por isso as conjugalidades devessem ser vistas como organizações com culturas de segurança interdependente, com o ideal de zero acidentes como expectativa. Claro que é assim que deve ser, dir-me-ão os mais cáusticos - ou mais lúcidos. Pois sim, mas os temas fundamentais das nossas relações deveriam ser repetidos todos os dias, como se fossemos meninos da primária escrevendo cem vezes no quadro: eu gosto de ser interdependente. Para que não nos esqueçamos.
Até que a asae dos bons costumes venha e feche o estabelecimento, continuo a dar-me ao luxo de fazer os paralelos mais improváveis - com arrojo e despudor.
JdB
1 comentário:
Que o arrojo e o despudor venham em cadadupa, quando a sua natureza é a da lucidez e da ousadia que leva à reflexão connosco próprios.
Obrigado
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