25 agosto 2014

Do reiki

Em 2001, ano de todos os anos, eu desconhecia em absoluto a palavra reiki. Hoje conheço a palavra, desconheço quase tudo o resto. Foi nesse ano, num mês que me escapa da memória, que entro em contacto com uma francesa, Odile Beauvilan, que opera maravilhas numa criança doente que me é mais próxima do que tudo, impondo-lhe as mãos. Talvez transmitindo energia, talvez remendando uma rede interna e invisível destroçada por um inimigo que o devia ser de adultos, porque os inimigos das crianças são os índios ou os cóbois, tudo dependendo de que lado estão na brincadeira. Retomo o fio à meada, para que me não perca - durante treze anos nada soube da Dra. Odile, como a conhecíamos.

Há uns meses desafiam-me para conversar com voluntários da associação de que sou presidente. (Quase) tudo corre mal - o tempo está invernoso, o trânsito a ambicionar o caos, porque aquilo que são as ruas de lisboa já não tem nome. Chego atrasado, falo perante um trintena, talvez, de pessoas que investem o seu tempo livre a fazer companhia a crianças doentes e pais angustiados. No fim, à saída para a confusão urbana, sou abordado por uma senhora: não sabe quem eu sou, chamo-me Teresa.  Venho a saber que está à frente de uma associação que faz voluntariamente reiki às crianças a quem o cancro atacou traiçoeiramente. E também aos pais e agora, ao que parece, a alguns profissionais de saúde envolvidos nestes horrores recheados de esperança. Recuei treze anos no tempo, e acedi a um testemunho semi-público.

Há algumas semanas estou num casamento. Pegam-me pelo braço, que me querem apresentar alguém. A senhora que está à minha frente sorri e diz-me mais ou menos isto: não se lembra de mim. Sou a Teresa, da associação do reiki. O Jung chamava-lhes coincidências significativas. Conversamos longamente, e uma semana depois recebo o livro da Dra. Odile Beauvilain, chamado O Último Suspiro. Quando dei por mim estava em 2001, ano de todos os anos - uma marquesa, uma rapariguinha deitada com uma rede interna destruída, uma francesa a impor as mãos e a chamar-lhes paz (digo eu...), porque a cura já estava no domínio do milagre. Como é que a Dra. Odile começou? Com uma criança francesa que morre de cancro, aos seis ou sete anos. Há uma espécie de círculo que se fecha.

Nada sei de reiki - e esse nada que sei vi-o com os meus olhos, senti-o com o meu coração, palpei numa mão que me apertava com mais força. Relacionar o reiki  - como já vi e li - com práticas demoníacas ou satânicas parece-me de uma infelicidade que roça o chocante. Nada sei de reiki, mas esse nada que sei dá-me suficiente certeza para defender esta arte, poder, jeito, capacidade, predestinação, o que quiserem. A imposição das mãos é muito antiga, e aquilo que há alguns séculos poderia ser considerado milagre já não é - ou o milagre é outro mistério, cuja decifração está dentro de cada um de nós.

O livro da Dra. Odile tem 120 páginas de histórias contadas sobre gente que, na sua esmagadora maioria, morre. Não há charlatanice, crendices, curas espantosas, publicidade enganosa. Há uma francesa e umas mãos que remendam a rede que é possível remendar. E há paz, muita paz, nas pessoas que acabam por partir. Nada sei de reiki - mas até esse nada eu sei. Porque vi.

JdB

4 comentários:

Anónimo disse...

Que testemunho tão importante. Obrigada! Obrigada! Obrigada! Beijos, Sarabi.

Anónimo disse...

JdB, a remendar as redes pela escrita, com as linhas da bondade e da aceitação, laçar a esperança pela faina da fé.

tqb disse...

Muito Obrigada por mais este comentário, JdB. O livro da Drª Odile Beauvilain é mais 1 testemunho do que é uma vida dedicada à cura e à conexão com a energia do Amor tendo em vista unicamente o Bem fazer. Verdade que muitos dos milagres, descritos desde há 2000 anos, são agora vividos com naturalidade por quem acredita que todos nós somos curadores em potência.

Anónimo disse...

«Relacionar o reiki - como já vi e li - com práticas demoníacas ou satânicas parece-me de uma infelicidade que roça o chocante»

é lamentável mas a ignorância, a pequenez, o preconceito, têm destas coisas.

a imposição das mãos - passes - tem origens milenárias noutras paragens. outras culturas sabem, melhor do que a nossa, ocidental, que a energia da vida é uma corrente única, que na natureza ela flui livremente; em nós, em medida maior ou menor, esbarra contra o ego, as suas complicações, as suas construções mentais, a demasiada erudição, a falta do simples e a perda da inocência. Não penso que seja a cura para o cancro, mas certamente, em determinados casos e condições, pode ajudar a libertar uma energia agrilhoada por sabe-se lá que estados mentais e a pô-la a fluir novamente como devia. Bel post.
Vejo-o um bocado tarde, mas mais vale tarde do que nunca,
v.

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