John Atkinson Grimshaw (British, 1836-1893), Reflexões sobre o rio Tâmisa, Westminster, 1880 |
Por Estas Noites
Por estas noites frias e brumosas
É que melhor se pode amar, querida!
Nem uma estrela pálida, perdida
Entre a névoa, abre as pálpebras medrosas
Mas um perfume cálido de rosas
Corre a face da terra adormecida ...
E a névoa cresce, e, em grupos repartida,
Enche os ares de sombras vaporosas:
Sombras errantes, corpos nus, ardentes
Carnes lascivas ... um rumor vibrante
De atritos longos e de beijos quentes ...
E os céus se estendem, palpitando, cheios
Da tépida brancura fulgurante
De um turbilhão de braços e de seios.
Olavo Bilac, in "Poesias"
***
Noutes de Chuva
Eu não sei, ó meu bem, cheio de graças!
Se tu amas no Outomno - já sem rosas! -
A longa e lenta chuva nas vidraças,
E as noutes glaciaes e pluviosas!
N'essas noutes sem luz, que - visionarios-
Temos chymeras misticas, celestes,
E scismamos nos pobres solitarios
Que tiritam debaixo dos cyprestes!
Que evocamos os liricos passados,
As chymeras, e as horas infelizes,
Os velhos casos tristes olvidados,-
E os mortos corações sob as raizes!
N'essas noutes, meu bem! em que desfeito
Cae o frio granizo nas estradas,
E tanto apraz, sonhando, sobre o leito,
Ouvir a longa chuva nas calçadas!
N'essas noutes, electricas, nervosas,
Todas cheias d'aromas outonaes,
Que a tristeza tem formas monstruosas
Como n'um sonho os porticos claustraes.
Noutes só em que o sabio acha prazeres,
- Tão ignorados dos crueis profanos! -
E em que as nervosas, mysticas mulheres,
Desfallecem chorando nos pianos.
N'essas noutes, meu bem! é que os poetas
Tem ás vezes seus sonhos mais brilhantes,
Folheam suas obras predilectas...
- E evocam rostos... e visões distantes!
António Gomes Leal, in 'Claridades do Sul'
Sem comentários:
Enviar um comentário