Numa sociedade altamente consumista e desenvolvida como a japonesa, percebe-se que o marketing publicitário tenha atingido níveis de excelência extraordinários. Há quem diga (para além dos próprios) que são os melhores publicitários da actualidade.
O mundo teve um vislumbre dessa excepcionalidade na cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos do Rio, quando o Brasil passou o testemunho ao Japão – país de acolhimento dos próximos JO. Levado por um túnel supersónico, a perfurar o interior da crosta terrestre, o Primeiro-Ministro japonês desencantou o atalho mais curto para chegar a horas ao outro lado do planeta. Em poucos segundos, transplantou-se das agitadas avenidas de Tóquio até ao estádio brasileiro, conduzido pelo eficientíssimo herói da banda desenhada (no vídeo, ao 2:52 min.). Ou seria ele o próprio boneco?
Com os recursos interplanetários à disposição, um imaginativo spot da companhia de seguros AIG do Japão está a tornar-se viral, mostrando que nem tudo o que parece é. O mote é expressivo: «the city if full of unexpected dangers». A câmara foca a chegada dos campeões mundiais do râguebi – os míticos All Blacks – às grandes avenidas da metrópole japonesa, como se estivessem em campo, num jogo renhido. Intimidam, claro. Mas serão as feras temíveis que aparentam? Terão inventado uma forma de terrorismo urbano selvático? Arrisquem ver até ao fim a sequência incrível de placagens, com um volte-face de fazer inveja à melhor seguradora. No momento derradeiro, há ainda uma surpresa com a entrada em cena de uma criança deliciosa, de olhos rasgados, a desafiar o capitão de equipa dos descendentes dos Maori:
Viajando do ultra-vanguardismo ao puro classicismo, mergulhamos em latitudes onde as tradições ancestrais são elevadas a arte. Por isso, não se estranha que o folclore regional seja magistralmente reinterpretado em ballet. Assim acontece na Rússia, pela Companhia de Igor Moiseyev(1), especializada em dança popular. Segundo o fundador, visam «exprimir o carácter de um povo através da música e dança».
À vasta diversidade etnográfica da Ásia Central, com as acrobacias dos cossacos, as coreografias dos camponeses da imensidão russa, dos ciganos, judeus, azerbis, georgianos, moldavos, ucranianos, quiseram somar "jotas aragonesas", danças gregas, argentinas, mexicanas, sérvias, egípcias, etc. para formar um mosaico interplanetário de gentes e costumes. Uma curta-metragem com o ensaio geral da Companhia de Moiseyev está a correr mundo, relevando um ballet exímio, que se torna mais evidente pela simplicidade dos fatos de ginástica monocromáticos, desprovidos dos artifícios faustosos dos trajes regionais:
Bem dizia Armstrong, se pudermos ver e mostrar o mundo pelo lado certo: «What a wonderful world»!
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
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(1) Versão resumida da actuação da companhia nos palcos do mundo:
2 comentários:
Muito bem Maria Zarco. Pode e deve-se criticar o que é abaixo de bom. Pode e deve-se elogiar o que é acima de bom.
Cumprimenta eao
Gostei muito. Obrigada.
Concordo consigo quando refere o interesse das tradicionais ‘passadas’ a dança clássica. Assisti a um espectáculo inesquecível de tango dançado por bailarinos de dança clássica em La Boca, Buenos Aires - lindíssimo.
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