Falar de música pode ser falar de gostos bizarros - ou simplesmente desenquadrados do que são as nossa referências em termos de épocas e hábitos. Para os outros, os que gravitam à minha volta e me dão o conforto da sua presença, gostar de música clássica - e com isso recuar 200 anos - é relativamente aceitável. Há uma certa intemporalidade neste género musical, já que daqui a 100 anos haverá gente a ouvir uma obra-prima com 300 anos, ou quiçá mais. Ora, se é aceitável eu ouvir música clássica tão antiga, já não é aceitável eu ouvir e gostar de música ligeira com 60 anos. 200 anos é aceitável, 60 anos sou um velho.
A bem dizer, este raciocínio não tem o menor rigor científico nem um átomo de valor dialético. No limite, o primeiro parágrafo é um verdadeiro disparate. Acontece que o estabelecimento é meu, são dez da noite, estou cansado e sem energia criativa. Lembrei-me que esta semana morreu Madalena Iglésias, a canconetista que o mundo português conheceu do célebre Ele e Ela, e eu quis lembrá-la neste modesto espaço.
Retomo o primeiro parágrafo - gostos bizarros. Talvez o Freud explicasse os motivos pelos quais gosto tanto de música sul-americana: tangos, boleros, milongas, cha-cha-cha... Onde fui eu buscar este gosto vitalício? E donde me vem este toque que alguns considerarão mais kitsch, de gostar da época de outro da música portuguesa? Donde me vem isto tudo, esta bizarria?
Deixo-vos com Madalena Iglésias, uma voz de sempre e para sempre. Não a cantar o que todos lhe conhecem - o que ele era para ela e o seu contrário - mas a interrogar-se sobre o paradeiro da felicidade...
JdB
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