19 março 2018

Duas Últimas

Ontem fui aos 40 anos de casados de amigos recentes, mas cuja amizade prezo. Embora sejam pessoas mais velhas do que eu, e tenham casado relativamente cedo, são gente da minha geração. Mandaram celebrar missa no mesmo sítio onde casaram, rezada pelo mesmo padre que os casou - agora com 86 anos. Nestas bodas de esmeralda (aprendo ontem) estava gente que não estava há 40 anos, gente que repetiu as cerimónias, faltavam pessoas - porque morreram - que estiveram ali ontem, mas há 4o anos. Nada de muito surpreendente na dinâmica da vida. 

40 anos é mais do que uma vida. Daquele casamento nasceram filhas e netos. Daquele casamento, como de outros que vou conhecendo mais ou menos com a mesma idade, nasceram ideias de casamentos perfeitos - não porque isentos de discussões e zangas, mas porque isentos de desistência. Tal como um santo é um pecador que não desiste, um casamento perfeito é aquele do qual não se desiste, em busca de uma felicidade que é um caminho, não um destino.

A longevidade destes casamentos representa tudo - uma dimensão de sorte, de esforço, de cedência mútua, de negociação, talvez até de vontade de mandar tudo às malvas.  Mas significa, acima de tudo, a ideia de exequibilidade, de possibilidade. Sim, é possível nos dias de hoje festejarem-se 40 anos de casados, contra todas as ideias que vão em sentido contrário. Não significa isto que o fim de alguns casamentos não tenha sido um inevitabilidade. Sim, alguns acabaram porque tinham de acabar, assim como outros acabaram sem que isso fosse uma inevitabilidade. 

40 anos é uma vida. E pode ser uma vida cheia, assim as pessoas queiram e o destino ajude. 

Deixo-vos com uma dupla que já por aqui passou, talvez mesmo com este belíssimo poema de Pedro Homem de Mello. "Tudo o que tenho, e nada tenho, é teu."

JdB


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