Aqui há algumas semanas falei com alguém que me é próximo sobre a ideia de casa comum. A ligação ao texto do papa Cuidar da Casa Comum foi óbvia, ainda que o horizonte da minha dissertação mental fosse mais modesto... Mas o facto é que o conceito - sei lá eu por que motivo - me andava a pairar no espírito até ter aproveitado um momento para sair da mente para fora.
A ideia de casa comum é aplicável a muitas dimensões: os sócios de uma empresa, os habitantes de um mesmo espaço, os cuidadores de uma mesma pessoa, uma relação conjugal. Ter presente a ideia de casa comum pode dar uma conotação diferente a muito do que fazemos. Dito de uma forma simples, a aplicável a uma dimensão familiar pode transformar uma tarefa num gesto de amor. Num instante, levar um velho a um médico, fazer um jantar, engomar umas calças ou substituir alguém que está cansado deixa de ser algo de maçador, e que pode não apetecer, para ser o cuidar de algo que é comum - e uma camisa que é preciso lavar-se para que outro vá a um evento importante pode ter essa dimensão.
Recuo 45 anos para os anos de uma juventude normal, com paixonetas adolescentes que variavam equilibradamente entre o sucesso e o insucesso. Hoje, por uma associação qualquer de ideias, veio-me à memória uma rapariga por que me apaixonei com 15 ou 16 anos. Estávamos numa casa de amigos comuns e eu pedi-lhe para me guardar os cigarros, a chave de casa, uma caixa de fósforos, não sei. Podia ter posto tudo isso em cima de uma cómoda, que por aí ficariam. Não obstante, quis entregar-lhe a ela. Foi há 45 anos, mas foi - olhando para trás - a primeira ideia que tive de casa comum: alguém que olhava por algo que era meu, por mais insignificante que fosse esse algo.
JdB
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