Há em todos nós, creio eu, uma dose grande de preconceito à espera do momento certo para se revelar. Por mais tolerantes que sejamos, somos xenófobos quando vemos chineses a falar muito alto, ou racistas (num certo sentido mais comum) quando nos confrontamos com negros a ouvirem música aos gritos. Na mesma linha, reside em nós um grande amor às crianças até elas nos matarem o sossego num avião ou numa esplanada onde ouvimos um trio de jazz a tocar; e adoramos os jovens até os vermos enroscados aos beijos num lugar público, a falar alto de chapéu de pala e com os pés em cima do sofá.
Obviamente que o contraponto a este argumento é simples: nós não somos xenófobos, nem racistas, nem intolerantes, nem o que quer que seja - limitamo-nos a não gostar de falta de educação ou daquilo que nos parece ser falta de civismo. Não é bem assim. Viajar de avião, andar em aeroportos, estar em sítios públicos é um convite à revelação do que há de pior em nós: num momento bramamos contra o turismo, no momento a seguir lembramos - com saudade e uma lágrima furtiva - o tempo em que viajar era uma actividade de elite, em que andar de avião algo diferente de um desporto de massas.
Cruzei-me com este cartaz à porta do Azoka - um restaurante, bar e lounge - na Cidade do Cabo. O dress code é simples e claro: não aceitam clientes com fato de treino, camisolas com capuz, chapéus, vestuário desportivo, calções, havaianas ou mochilas. Num certo sentido, o Azoka é um eliminador de raivas e uma ferramenta para o bom feitio. Janta-se no Azoka, bebe-se uma cerveja no Azoka, e nada nos fazer ser racista, xenófobo, intolerante ou snob. Disciplinados pela estética e pela regra, revela-se em nós um pouco de paraíso.
JdB
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